Ao longo de mais de cinco décadas de carreira, o ator e diretor Paulo Reis interpretou personagens que ficaram na memória afetiva do público. Alguns deles são o Olavo de “Vale tudo”, obra-prima de Gilberto Braga (1945-2021), e o Guga de “Rainha da sucata”, de Sílvio de Abreu. Já com uma carreira estabelecida na TV e, mais recentemente, no streaming, Paulo surpreendeu os fãs ao enveredar por uma nova seara, a literária. Autor de três títulos – e tradutor de outros tantos autores – ele participa, neste sábado (25), do Salão do Livro do Rio de Janeiro, onde, às 19h, bate papo com as escritoras Chiara Ciodarot e Lygia Carneiro Santiago.
Paulo dedicou-se, ao longo dos últimos, 20 anos a uma trilogia de livros de suspense, iniciada com o lançamento de “Títeres”, em 2022. O interesse pela escrita o acompanha há muito, e a edição do primeiro título aconteceu quando o artista já somava 50 anos de carreira. A demora, segundo o próprio ator, deveu-se a uma rigidez do próprio mercado literário.
– A primeira versão do“Títeres” foi escrita em 2002, mas, mesmo já trabalhando como tradutor para as mais importantes editoras, não conseguia publicar pelo fato de o mercado editorial brasileiro ser muito fechado. O tempo passou, e optei por editoras de autopublicação que foi a solução que encontrei – explica Paulo reconhecendo o aprimoramento trazido pelo tempo: – A vantagem foi que, nesse ínterim, amadureci e consegui estrear já com uma trilogia, uma vez que os personagens continuaram vivos dentro de mim.
Conciliando os trabalhos na telinha com as traduções, Paulo já verteu para o português mais de 50 títulos de autores como os romancistas Gore Vidal (1925-1912) e Ian McEwan, além de nomes como o diretor teatral David Mamet. Esse trabalho deu segurança para o ator ver que seria capaz de sustentar uma narrativa ficcional, como ele conta:
– O trabalho como tradutor me trouxe a segurança para escrever e me mostrar que seria capaz de narrar uma estória, ainda mais sendo uma estória de suspense sem entregar o ouro ao bandido, digamos assim.
Muito se fala hoje num possível remake de “Vale tudo”, novela escrita por Gilberto Braga com as colaborações de Aguinaldo Silva e Leonor Bassérres (1925-2004). O folhetim marcou gerações de brasileiros e obtém excelente audiência a cada nova reexibição. O ator, que interpretou o fotógrafo Olavo na versão original, dá seu pitaco sobre a iniciativa:
– “Vale tudo foi uma novela tão perfeita que dá um pouco de medo ver um remake sendo feito. Só que a qualidade técnica da imagem está comprometida e, infelizmente, a novela continua atual, o que mostra como evoluímos pouco em termos de sociedade. A Globo precisa vender suas novelas a outros países e é necessário que seja feita uma nova versão. A trama pode tratar de temas atuais como sexualidade e, espero, que trate também de etarismo.
Presente em produções recentes de séries como “A divisão” e “Arcanjo renegado”, Paulo vê a forma como o público se relaciona com o streaming como um fato irreversível.
– O avanço do streaming no mundo é avassalador e ele veio para ficar. A TV aberta, como a conhecemos, está com os dias contados. O streaming não se resume a séries, mas engloba filmes e, no caso de algumas séries, elas são tão longas que podem ser acompanhadas como novelas. O streaming é o presente e o futuro ao mesmo tempo (risos) – arremata ele.