O que a faz única

dezembro 25, 2024

No dia em que Simone completa 75 anos, cinco nomes da MPB aplaudem esta que é uma de nossas maiores cantoras

Uma pessoa é o que a sua voz é. E também seu nome. Uma das mais importantes cantoras brasileiras por pouco não foi batizada como Natalina. Tudo por ter nascido no dia de Natal. Em 25 de dezembro de 1949, Simone Bittencourt de Oliveira veio ao mundo. A menina nasceu embalada pelos sinos da festa cristã, num prenúncio de que estava fadada a brilhar. E isso se dá desde 1973, quando Simone, como ficou conhecida, deixou as quadras de basquete para marcar posição em outro campo, o da música, onde reina há 51 anos.

Nossa Cigarra, como é carinhosamente chamada, completa 75 primaveras nesta quarta-feira (25). E NEW MAG homenageia essa artista ímpar ouvindo cinco grandes talentos da MPB cujos caminhos cruzaram com os dela, estabelecendo laços longevos e pautados por afinidades afetivas e musicais.

Quando ainda não conhecíamos a expressão “empoderamento”, Simone já dava sinais de estar afinada com um ‘Novo tempo”. E usou de seu timbre vibrante para dar voz a uma legião de compositoras que trouxeram à baila importantes reivindicações femininas.

Joyce Moreno foi uma delas. A compositora está presente no LP de estreia de Simone com “Encontro marcado”. A canção é um libelo pela autonomia feminina ao trazer versos como “Tô com vontade de ir para frente/Isso eu sei, você me entende”. Ter nas mãos as rédeas das própria vida é algo que aproximou as duas artistas, como conta Joyce:

Grandes: Simone, Monica Salmaso e Joyce

–  Acho que talvez o grande diferencial da Simone, além de uma grande cantora, seja essa visão e condução da própria carreira que ela sempre teve, desde o início. E isso é bastante raro.

Três anos depois, um filme tornaria o canto de Simone conhecido em todo o país. “Dona Flor e seus dois maridos”, de Bruno Barreto, trazia na sua trilha sonora a canção “O que será?”,  de Chico Buarque, desdobrada em três temas (“Abertura”, “À flor da pele” e “À flor da Terra”) gravados por Simone. Foi nessa época que Francis Hime, autor dos arranjos da trilha, conheceu a artista. E a afinidade entre eles foi imediata, como relembra o compositor:

–  Sempre gostei muito da Simone, desde a época em que ela cantou “O que será?”, do Chico, com arranjos meus para “Dona Flor e seus dois maridos”,do Bruno Barreto. E, nos anos seguintes, ela gravou lindamente um tanto de canções minhas. Viva Simone!

Um soneto escrito por Abel Silva e musicado por Sueli Costa (1943-2023) foi o responsável por cravar a voz da artista no coração do público. Simone tinha 26 anos quando lançou “Jura secreta” no LP “Face a face”. A canção, de tão emblemática, mantém-se nos shows da artista até hoje, assim como outras canções da dupla Sueli-Abel.

– Simone é fundamental para a música e, em especial, na minha vida – reconhece o poeta e letrista, destacando algumas das características marcantes da artista: – A voz, o carisma, o profissionalismo e o afeto fazem-na única.

Simone e Zélia na gravação do show em que Simone celebrou 50 anos de carreira

“Alma” é outro carro-chefe da safra Sueli-Abel latente no repertório da estrela.  E foi ali, por volta de 1982, que Zélia Duncan assistiu pela primeira vez a um show da artista. Zélia morava em Brasília e, de férias no Rio de Janeiro, tratou de ir ver a cantora no hoje extinto Canecão.

ZD, como ficaria conhecida, sequer imaginava que fã e ídola tornariam-se amigas. E isso se daria em 2005, quando dividiram os vocais em “Não vá ainda”, canção de Zélia incluída no repertório de “Simone ao vivo”, lançado naquele mesmo ano. A compositora enumera alguns dos que ela própria chama de ingredientes que fazem da Cigarra única para ela:

– O timbre de voz acima de tudo. A musicalidade, a sensibilidade para o canto e o carisma transbordante. Por fim, uma mulher linda demais!

A cantora e compositora Ana Costa era ainda menina quando, em 1984, anotava num caderno as letras de “Delírios, delícias”, LP em que Simone imortalizou temas como “Mulher da vida” (Milton Nascimento e Fernando Brant)e o samba-enredo “O amanhã”.

Ana também não sabia, mas viria a privar da amizade da estrela. São dela, inclusive, parte dos vocais ouvidos nas lives, através das quais Simone atenuou a angústia de muitos de nós nos primeiros anos da pandemia.

– Simone é uma estrela, daquelas que, em qualquer situação, estão ali pra guiar nossos sentidos. Voz única,  interpretação que seduz, presença marcante na minha vida, há muitos anos – reconhece Ana arrematando em seguida: – A voz da Simone moldou meu gosto pela MPB.

E Abel pede novamente a palavra para um recado à Cigarra:

– Feliz aniversário, minha amiga. Amo você.

E não somente o poeta. Nós todos. Afinal, “uma artista também é o que são a sua voz e o seu canto”.

Viva Simone!

Crédito das imagens: Cristina Granato e Christovam de Chevalier

Entre pupilos: Simone é cercada por talentos da música aos quais abriu caminho através de seu canto

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