Não é de hoje que o presidente da República e candidato à reeleição, Jair Bolsonaro, assim como seus apoiadores, fazem menção a símbolos e ideais nazistas. A camisa com o número do candidato (22), presenteada recentemente ao governador de São Paulo, Rodrigo Garcia (PSDB), suscitou comentários do professor Michel Gherman, do Departamento de Sociologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Numa rede social, ele tachou o design do número a “um misto de suástica e SS (braço armado do Partido Nazista)”. Autor do livro “O não judeu judeu: a tentativa de colonização do judaísmo pelo bolsonarismo” (Fósforo Editora), ele explicou ao NEW MAG o que o levou a tais associações.
– Antes mesmo da candidatura, Bolsonaro sempre mostrou uma estética nazista no seu governo, seja nos slogans, como em “Brasil acima de tudo”, que pega emprestado do “Alemanha acima de tudo”, de Hitler, por exemplo. Há também a famosa live do então secretário especial de Cultura Roberto Alvim, fantasiado de ministro da Propaganda Nazista Joseph Goebbels (1897-1945), assim como apoiadores do governo bebendo leite, símbolo do poder branco, e eu poderia continuar falando horas dessas referências – elenca Gherman, que também é coordenador do Núcleo de Estudos Judaicos da UFRJ e assessor do Instituto Brasil-Israel.
Outra cena que chamou a atenção foi o discurso de Bolsonaro no Clube Hebraica, no Rio de Janeiro, em 2017. O presidente distinguiu, na ocasião, as raças que seriam “boas” daquelas que seriam “ruins”, além de fazer comparações entre alemães e italianos.
– Eles produzem um discurso antissemita tão criativo que é difícil de a gente identificar, o que acho interessante. Como que, em um clube judaico, onde supostamente Bolsonaro deveria fazer uma propaganda em favor dos judeus, ele não consegue em nenhum momento elogiar, o que realmente mostra que tem um problema com a apologia desse povo – rememora o historiador sobre o episódio.
Michel Gherman também chama atenção para o fato de o governo Bolsonaro estar vinculado não às perspectivas da extrema direita da década de 1930, mas à do ano 2000, funcionando com o que chama de “apito de cachorro”.
– O bolsonarismo é dividido em dois níveis: o da galhofa, da palhaçada, do homem que fala o que quer, e o nível subterrâneo, onde essas coisas acontecem de fato. Esses dois níveis estão dialogando o tempo todo. O subterrâneo dirige o da galhofa e, quando o primeiro aparece, apresenta, por exemplo, uma camiseta do Brasil com o número 22 na qual você vincula os dois números a uma suástica. É o apito dos cachorros, um símbolo às bases.
Outro ponto que traz à reflexão é entender se eleitores de Bolsonaro podem ser cativados por meio do uso dessas simbologias. Gherman acredita que os eleitores não sejam cativados e que até se assustariam, caso tivessem todas essas informações.
– Acho que os setores que se cativam com isso são, de fato, os neonazistas. A gente tá falando de um país que se tornou uma verdadeira Disneylândia do nazismo. A maioria esmagadora dos eleitores de Bolsonaro não sabe disso. A comunidade das vítimas do nazismo no Brasil relativizou essas coisas e acabou produzindo uma percepção de pouca importância. Isso é muito sério. O Bolsonaro acabou se higienizando e não sendo acusado de ser um neonazista. A função das vítimas históricas do nazismo seria denunciar isso, mas não é o que acontece no Brasil.
Crédito da foto: Arquivo pessoal