‘O cinema vai se adaptar às novas realidades’

junho 7, 2024

Hugo Bonemer encara novo musical e fala sobre redes sociais, elogia Cissa Guimarães e Regina Casé e aposta que a neurodivergência vai tirar do armário outra parcela da sociedade

Versatilidade é uma marca latente na vida de Hugo Bonemer. Ele é, aos 36 anos,  reconhecido pela gama de áreas em que atua. Um dos mais talentosos atores de sua geração, manda bem ainda como apresentador de TV, falando sobre cinema no Like, e marca presença agora como comentarista do novo “Sem censura”, na TV Brasil. O artista prepara-se agora para encarar o sexto musical de sua carreira. Em “Querido Evan Hansen”, que faz sua estreia nacional pelo Rio de Janeiro, no dia 13 deste mês, no Teatro Multiplan. O espetáculo, dirigido por Tadeu Aguiar, leva à cena temas relacionados à neurodivergência num mundo excessivamente tecnológico. Esse olhar para o contemporâneo permeia o trabalho e a trajetória de Bonemer, que planeja falar de relações humanas num projeto futuro. “Como podemos viver juntos sem estarmos tão isolados, entretidos pelas novas tecnologias”, entrega ele ao NEW MAG. Na conversa, por telefone, o ator fala da sua relação com redes sociais, do futuro do cinema, de armários dos quais a sociedade precisa sair e rasga seda a Cissa Guimarães e Regina Casé, não por acaso atrizes e apresentadores que exercem com maestria múltiplas funções.

Você estrela o sexto musical da sua carreira com um tema sobre neurodivergência num mundo excessivamente tecnológico. O que essa proposta traz de desafiadora para o Hugo ator de musicais?

São muitos os desafios. O primeiro deles está no fato de ser um musical muito denso e que trata de temas importantes sobre o comportamento humano. Outro fato interessante é que meu personagem está morto. Ele entra na trama em três diferentes momentos. No primeiro, ele está vivo e, em outro, são apresentadas versões do que ele poderia ter sido e, por último, ele está ligado à consciência do Evan.

E você trabalha pela primeira vez com o Tadeu Aguiar. Como está sendo essa experiência?

O Tadeu é um diretor muito objetivo e prático. Ele chegou aos ensaios com o esqueleto do espetáculo pronto, e levantamos a peça em apenas quatro dias. Nunca havia visto algo assim! Com isso, podemos lapidar as cenas como fazemos no teatro, podendo modificá-las completamente, se for necessário. E a equipe entra nessa sintonia. A Liliane (Secco, diretora musical) mandou as vozes antes de os ensaios começarem. Tudo é feito de forma ágil.

Hoje a credibilidade de um artista é medida pelo número de seguidores nas redes sociais. Acha que, com o tempo, haverá como reverter essa forma de julgamento?

A questão é que o número de seguidores pode estar relacionado à sua relevância, mas não à credibilidade do seu trabalho. A credibilidade é algo que leva tempo para acontecer. A questão no comportamento de muitas celebridades é que as redes sociais acabam sendo extensões delas próprias. Aprendi a lidar com as redes sociais de forma muito organizada. Elas são uma parte do meu trabalho, estando inseridas numa rotina de trabalho. E, por isso, consigo lidar com elas de forma saudável, estabelecendo limites para minha exposição. Claro que ganhar ou perder seguidores mexe com nossa autoestima.

Você é ator, apresentador, dublador e, este ano, estreou como comentarista e num programa de tradição na TV. O que te levou a aceitar esse desafio?

Os boletos (risos). O trabalho como ator me dá também essa possibilidade de trabalhar como comunicador. Estou há seis anos como apresentador no Like e é natural que, nesse ínterim, desenvolva outras habilidades. Um fator que contou muito para participar do “Sem censura” foi a forma como me comunico nas redes sociais, de forma espontânea e sem roteiros. E estar ali é ótimo. A Cissa (Guimarães, apresentadora) é maravilhosa e há a possibilidade de troca, o que é enriquecedor, e falo sobre sustentabilidade, que é um assunto que muito me interessa.

Você fala sobre cinema no Like há seis anos. A forma de consumir cinema mudou e produções como Kung Fu Panda ainda movimentam milhões. Qual a sua visão sobre o futuro do cinema?

O cinema muda como qualquer outra mídia. Acho que a única arte que vai permanecer estável é a do teatro. O cinema vai se adaptar às novas realidades. Pode ser que aconteça como nos EUA, onde essa série “Chosen”, teve os primeiros capítulos exibidos no cinema e depois foi acompanhada no streaming. Não vou me impressionar se a indústria investir mais em produções voltadas às crianças, e as salas virarem quase um local de recreação, com piscina de bolas e telas em formatos diferentes. Não sei para onde vai o cinema, e essa talvez seja a grande pergunta a ser respondida.

A qual outro tema gostaria de dedicar um programa de TV?

Gostaria muito de falar sobre conexões humanas. Como podemos viver juntos sem estarmos tão isolados, entretidos pelas novas tecnologias. Nas artes há assuntos que viram tendência e que, antes, demoravam para se espalhar pelo mundo. Agora esse tempo está cada vez mais curto. Hoje estamos falando mais sobre neurodivergência e já está havendo uma nova saída do armário. Há diagnósticos sobre diferentes tipos de bipolaridade. Ouvi outro dia ouvi que hoje todo mundo é autista. É curioso porque, anos atrás, o comentário era o de que todo mundo agora era gay. Sempre existiram gays no mundo. Acontece que, mais recentemente, as pessoas passaram a falam sobre sua sexualidade com mais naturalidade.

Na época do musical “Yank” você falou sobre o tema, assumindo o relacionamento com um colega de elenco e, de lá para cá, ficou mais reservado. O que pesou para essa decisão?

Fui o primeiro ator da minha geração a falar da minha sexualidade e já falei muito sobre ela, em diversas entrevistas. Em todas elas o assunto acaba sendo o chamariz e ganhando uma relevância maior do que deveria, com minhas falas sendo reproduzidas por outros veículos e retiradas de contexto. O público não difere uma resposta espontânea a uma determinada pergunta da vontade latente do entrevistado de falar de um determinado assunto. As entrevistas são concedidas porque tenho um trabalho para promover e, muitas vezes, no fim das contas, parece que estou concedendo uma entrevista para me promover.

A Regina Casé realizou na TV projetos em que misturou a atriz com a apresentadora. Tem planos de realizar um projeto em que junte os Hugos todos?

Adoraria.  O que a Regina fez e faz é a expressão bonita da criatividade dela. Ela faz e pensa o que quer, e isso é muito forte. Ela sabe a hora de fazer rir e a hora em que é preciso resistir e leva para seus projetos a própria vivência, sem medo de ser julgada por ser quem é, por ser a artista que é. Tenho um respeito profundo por ela e espero aprender a fazer isso dentro da minha realidade.

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