Pode armando o coreto. Uma das maiores cantoras brasileiras está celebrando 50 anos de carreira. A artista em questão é Simone Bittencourt de Oliveira, ou simplesmente Simone como é mundialmente conhecida. A Cigarra abriu, na noite do último sábado (15), em Juiz de Fora (MG), os festejos diante de um Cine-Theatro Central com os seus 1.851 lugares ocupados.
Simone faz um passeio significativo por parte dos seus álbuns, construindo um roteiro composto por 23 canções – todas elas clássicos da MPB. Sucessos e temas representativos de sua trajetória ganharam de Pupillo, diretor musical do espetáculo, novos arranjos. E não faltam autores significativos para a artista como Ivan Lins (“Começar de novo”), Gonzaguinha (“Sangrando”) e Milton Nascimento (“Cigarra” e “Encontros e despedidas”).
Chico Buarque, importantíssimo na trajetória da artista, faz-se presente em três números: “O que será”, gravada para o filme “Dona Flor e seus dois maridos” (1976), sucesso de bilheteria de Bruno Barreto; “Sob medida”, do hoje histórico LP “Pedaços” (1979), e “Iolanda”, versão de Chico para a canção de Pablo Milanês (1943-2022) e muito presente nos shows da artista, tendo sido gravada por ela três vezes (nos álbuns “Desejos”, de 1984, “Amor e paixão”, de 1986, e em “Sou eu”, de 1993).
Já Sueli Costa, que faleceu em março deste ano, é devidamente reverenciada com duas músicas, ambas com letras de Abel Silva: “Jura secreta” (“Face a face, 1977), e “Alma”, de “Corpo e alma” (1982), álbum que alçou a artista ao posto de grande vendedora de discos e que inspirou, na ocasião, o primeiro especial transmitido ao vivo pela TV Globo. Na seara de sucessos, Simone reaviva dois hits radiofônicos que há muitos anos não cantava: “Você é real” (“Cristal”, 1985), de Piska e Fausto Nilo, e “Separação” (“Sedução”, 1988), de José Augusto e Paulo Sérgio Vale.
As grandes surpresas do roteiro são duas joias resgatadas pela cantora do fundo de seu baú. São elas a provocativa “Sangue e pudins”, parceria de Fagner e Abel Silva, e “Depois das dez”, do saudoso Tunai com Sergio Natureza. Enquanto a primeira fechava o álbum “Cigarra” (1978), a segunda abria “Delírios, delícias” e, em 1984, com o governo de João Figueiredo chegando ao fim, tornou-se um libelo pela liberdade por conta dos versos “Depois das dez horas\ Não tem mais censura\Ninguém se segura”.
Do alto dos seus 73 anos, completados em dezembro, Simone olha para sua trajetória sem saudosismo, mas com alegria pelo que construiu. E os motivos são muitos. Como ela entrega na canção escolhida para abrir a noite, ela tá que tá. E tem mesmo (muitas) razões para tanto.
Crédito das imagens: Bernardo Traad e Flashback Rocks