Pode-se dizer que o talento de Liniker para as artes veio de berço. De família de artistas de Araraquara, cidade no interior de São Paulo, ela teve no quintal de sua casa os melhores aprendizados sobre música, em que o samba sempre fazia parte da festa. Quando nova, entrou para o teatro para tentar vencer a timidez de apresentar-se em público. E não deu outra. Foi lá que ela desenvolveu sua identidade artística única. A atriz e cantora iniciou sua carreira com a banda Liniker e os Caramelows em 2015 e rapidamente tornou-se viral nas redes com o EP “Cru”. Em 2021, a cantora decide seguir carreira solo e logo de largada faz enorme sucesso com o disco “Índigo borboleta anil”, que tem participação de ninguém mais, ninguém menos do que Milton Nascimento. Liniker é uma das maiores vozes negras e do movimento LGBTQIA+ no Brasil. E recentemente tornou-se a primeira mulher trans imortal da Academia Brasileira de Cultura (ABC). Em entrevista ao NEW MAG, ela falou sobre perseverança, reconhecimento – e como ele mudou sua vida – e revela o desejo de cantar com Djavan.
O que representa para você, uma mulher trans, assumir uma cadeira na Academia Brasileira de Cultura?
O Brasil ainda é um país que precisa olhar para a gente e aprender com nossos movimentos. Ser imortalizada no país que mais mata travestis e pessoas trans no mundo inteiro é extremamente importante. É necessário olhar para isso como uma movimentação de cultura e de pensamento. É algo que não pode iniciar e frear só em mim. É fundamental que mais e mais pessoas sejam membros e imortalizadas pela Academia enquanto pessoas LGBTQIA+, pretas e indígenas.
Você protagonizou a série “Manhãs de setembro”, na qual sua atuação foi bem elogiada pela crítica. Há planos para novos trabalhos na TV ou no cinema?
O teatro sempre foi o que me movimentou, assim como a música. Onde tiver espaço e a certeza de que meu trabalho será plantado, de que não vai ser algo a ficar só ali, vou estar lá.
Você é vencedora de diversos prêmios como o Grammy Latino. O que mudou na sua vida com o reconhecimento internacional?
Mudou tudo. O reconhecimento trouxe legitimidade para o meu trabalho, força e muitas coisas boas.
Você já gravou com Milton Nascimento, Johnny Hooker, Majur e Linn da Quebrada. Com quais outros nomes da música sente vontade de fazer parcerias?
Sinto muita vontade de gravar com o Djavan.
O que a Liniker de hoje, imortal da Academia Brasileira de Cultura, diria à Liniker que, lá atrás, ficava tímida ao cantar em público?
Diria para não desistir. Ela descobriria muitas coisas e lugares onde nem imaginaria chegar.
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