O Brasil na festa

fevereiro 15, 2025

Affonso Gonçalves, montador de ‘Ainda estou aqui’, deslumbra o Festival de Berlim com ‘Peter Hujar’s Day’

por Rodrigo Fonseca* 

Embora não esteja na competição oficial da Berlinale, vindo do Festival de Sundance, “Peter Hujar’s Day” vem lotando sessões na maratona germânica, despontando como uma das mais fortes atrações do evento, ampliando o prestígio de um profissional brasileiro, seu montador, o paulista Affonso Gonçalves. Essa reconstituição da cena cultural nova-iorquina da década de 1970, centrada no convívio entre a escritora Linda Rosenkrantz e o fotógrafo Peter Hujar (1934-1987), vivido por Rebecca Hall e Ben Whishaw, não teria a força que tem não fosse a edição meticulosa de Affonso. O diretor do longa-metragem, Ira Sachs, tem nele um parceiro certo, assim como o presidente do júri da disputa pelo Urso de Ouro de 2025, o cineasta Todd Haynes. A consagração desse bamba da montagem ampliou-se com a indicação de um de seus trabalhos mais recentes a três Oscars: nada mais, nada menos do que “Ainda estou aqui”.

– Sempre tive o sonho de um dia trabalhar com Walter Salles, sobretudo depois que me estabeleci em Los Angeles, e nós dois nos entendemos muito bem. Fui fazer a edição de ‘Ainda estou aqui’ com ele no Rio de Janeiro e pude perceber como ele é atencioso com o trabalho dos atores – diz Affonso, ao NEW MAG, por telefone.

Na ocasião do papo, ele estava em Nova York, enfurnado na ilha de edição do esperado “The Bride”, de Maggie Gyllenhaal. Havia já finalizado os cortes de Peter Hujar’s Day”. Este ano, tem ainda “Father, mother, sister, brother”, de Jim Jarmusch (outro colaborador de todas as horas), para levar às salas de exibição.

– Jarmusch, Haynes e Sachs são artistas com quem a gente trava conversas profundas, e isso quando o filme ainda está só na fase de roteiro. Eles pertencem a uma linhagem que não tem a obrigação de acatar as vontades dos estúdios – explica Affonso, que montou cerca de 50 títulos desde a década de 1990, incluindo produções indicadas ao Oscar, como “Inverno da alma” (2010), “Indomável sonhadora” (2012) e “Segredos de um escândalo” (2023).

Aos 56 anos, Affonso, nascido em São Paulo, vive nos EUA desde 1994 e estudou na London Film School, com mestrado no American Film Institute. O contato com Salles foi mediado pela prosa de Marcelo Rubens Paiva no livro (homônimo ao filme) “Ainda estou aqui”. É um relato biográfico sobre a mãe do escritor, a advogada e ativista Eunice Paiva (1929-2018), e sua luta contra a tortura e demais violências de estado nos tempos da ditadura. Em 1971, o seu marido, o engenheiro Rubens Paiva (1929 – 1971), ex-deputado, foi levado para depor e acabou assassinado pelo regime.

– Minha preocupação nesse filme era dar tempo ao(à) espectador(a) para conhecer aquela família bem, convivendo com eles por tempo o bastante para sentir a falta de Rubens quando ele desaparece – diz Affonso, já com uma nova empreitada em vista: – Vou trabalhar com a diretora Chloé Zhao, de ‘Nomadland’, em seu novo projeto.

O Festival de Berlim termina no dia 23. Neste domingo, o evento confere o concorrente brasileiro ao Urso de Ouro: “O último azul”, de Gabriel Mascaro.

*Enviado especial ao Festival de Berlim

Crédito da imagem: Divulgação

MAIS LIDAS

Posts recentes

Tudo nos trinques

Joana Paixão e Ricardo Chalfin casam-se no Copacabana Palace em cerimônia como há muito o Rio não via