Marco Nanini imortalizou na memória afetiva do público os mais variados tipos. Alguns foram personagens reais como o Dom João VI (1767-1826) de “Carlota Joaquina” (1995), de Carla Camurati, ou mesmo os políticos nos quais inspirou-se para compor seu Odorico Paraguaçu de “O bem amado” (2010), de Guel Arraes.
Nanini volta ao cinema com um personagem real. Ele vive o médium João Teixeira de Farias, conhecido como João de Deus, no longa “João sem Deus – A queda de Abadiânia”, filme da jornalista Marina Person que volta também a lidar com um personagem factível após o documentário sobre seu pai, o cineasta e ator Luiz Sérgio Person (1936-1976). A série foi lançada na noite da última segunda-feira (09), no Festival do Rio.
O médium foi condenado a quase 500 anos de prisão por crimes sexuais como estupro de vulneráveis e violação sexual mediante fraude. Nanini sabe bem o quão difícil foi interpretar o personagem e credita ao roteiro a responsabilidade por fazê-lo topar o desafio.
– O tema é muito difícil, né? Mas o roteiro é muito bom, muito bem escrito. Ele tem como protagonista duas mulheres, são duas irmãs. É a história delas, na verdade, que se encontra com a história do João de Deus, no caso na série, João sem Deus – conta Nanini ao NEW MAG, destacando outro fator para aceitar o desafio: – O elenco é muito interessante, muito talentoso e muito agradável de conviver, fora a equipe, muito profissional. Então isso deu uma tranquilidade para enfrentar essa figura.
O ator chegou ao set com o personagem ainda sendo moldado, e o dia a dia com a equipe foi importante para ele chegar ao resultado final, como Nanini entrega a seguir:
– O processo se deu durante as filmagens, que eu via com a Marina, a diretora, como era o dia a dia dessas pessoas junto com os outros colegas.
Uma certeza foi seguida à risca pelo ator: a de não imitar a figura real do médium, mimetizando trejeitos do ex-líder espiritual.
Eu tinha a certeza de que não queria imitá-lo, nunca pretendi imitá-lo. Queria fazer uma presença forte, uma presença dramática, sem o imitar. O que eu quis passar do João de Deus era um timbre e uma áurea que o representassem –arremata.
E, certamente, Nanini o faz com a grandeza que só os grandes atores têm.