‘Nosso modelo visa o desenvolvimento sustentável’

dezembro 25, 2022

Leonardo Elia Soares, presidente da Cedae, fala do compromisso com o Pacto Global da ONU e de iniciativas que dão dignidade à população carcerária do Rio de Janeiro

Durante dois verões consecutivos, a população do grande Rio de Janeiro recebeu em suas casas uma água de tonalidade escura e odor desagradável. A mudança era provocada pela geosmina, composto orgânico produzido por algas a partir do excesso de bactérias. O fantasma da geosmina não volta a assustar a população fluminense. A melhoria é uma das muitas colocadas em prática por Leonardo Elia Soares, novo presidente da Cedae, responsável pelo abastecimento de água no Rio de Janeiro. A empresa não é mais a mesma. Uma das iniciativas é a adesão ao Pacto Global da Organização das Nações Unidas (ONU). Outra é a de associar a marca à Stock Car, evento esportivo que mais investe em inovação e tecnologia. Em prática estão também os investimentos em startups e a manutenção de programa que, desde 2001, utiliza mão de obra carcerária, dando um ofício a essa população e a oportunidade de inseri-la no mercado de trabalho. E os números mostram que o projeto vai muito bem. “Do total de pessoas que passam pelo nosso programa, 80% não reincide no crime”, celebra Soares, nesta entrevista ao NEW MAG.

A Cedae aderiu, em setembro, ao Pacto Global da ONU. O senhor pode nos detalhar um pouco mais sobre o programa promovido pela companhia, que adota políticas sustentáveis, socialmente responsáveis e contribui para alguns dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis (ODS)?

Nosso modelo de gestão visa contribuir ativamente para o desenvolvimento sustentável. Estamos cada vez mais focados nas práticas voltadas à agenda ESG (sigla em inglês para Ambiental, Social e Governança), e a adesão ao Pacto Global, após obter as certificações exigidas pela iniciativa, só reforça isso. Este é o maior movimento de sustentabilidade corporativa do mundo na atualidade, com mais de 13 mil membros em quase 80 redes locais, que abrangem 160 países. Um dos pilares da Companhia no pacto é o ‘Replantando Vida’, programa socioambiental que une ações de sustentabilidade e ressocialização de detentos do sistema prisional do estado do Rio de Janeiro, sendo o maior empregador de mão de obra carcerária no país. Desde 2001, mais de 6 mil pessoas já passaram pelo programa, que oferece remuneração, auxílios transporte e alimentação, com benefício de redução de um dia de pena a cada três trabalhados.

O programa Replantando Vida é o maior empregador de mão de obra carcerária do Brasil, que atua no replantio da Mata Atlântica e na ressocialização de presos. A companhia tem tido êxito nesta reintrodução dos detentos na sociedade?

Com certeza. O índice de sucesso dos participantes do Replantando Vida é de 80%. Ou seja, do total de pessoas que passam pelo nosso programa, 80% não reincide no crime. Na média nacional, os valores se invertem: apenas 20% não reincide no cometimento de crime. Além do emprego e dos benefícios, oferecemos curso de especialização na área ambiental para que essas pessoas aprendam um ofício, tenham uma profissão e oportunidades no mercado de trabalho.

A Cedae investe em startups através do Projeto Manancial, laboratório de inovação socioambiental da companhia, fundado pelo senhor no início do ano. Como surgiu a ideia do Projeto Manancial e quanto já foi investido nestas empresas que inovam?

O Manancial, Centro de Inovação Socioambiental da Cedae, foi inaugurado em fevereiro e marca a nova fase da Companhia, focada em novas tecnologias e seguindo as diretrizes ESG. O laboratório é mais uma ferramenta para criação dos novos negócios da empresa, que, com sua expertise no mercado, passou a oferecer diversos serviços às novas concessionárias, garantindo geração de receita. Já promovemos dois desafios para aceleração de startups, que resultaram em 15 projetos incubados, envolvendo inovação, sustentabilidade e tecnologia. A Cedae pode investir até R$100 mil em cada trabalho, a depender da viabilidade e do desenvolvimento de cada um.

Por que a Cedae decidiu fechar uma parceria com a Stock Car, o maior campeonato de automobilismo do Brasil? O senhor é um amante do automobilismo?

A Stock Car é, hoje, a principal categoria de automobilismo da América Latina, e esse esporte é um dos que mais investem em tecnologia e inovação. A parceria aconteceu em abril, após o GP Galeão, porque acreditamos que vincular nossa marca à Stock Car só traria bons frutos, como tem sido o 2º Desafio Manancial/ Stock Car, lançado em maio, em busca de soluções inovadoras e sustentáveis para o automobilismo. Em agosto, selecionamos quatro startups que apresentaram projetos como, por exemplo, sensores para monitoramento e redução da emissão de gás carbônico (CO2) nos eventos e criação de biocombustível a partir do lodo resultante do tratamento de água.

A população fluminense já sofreu no passado com odor e gosto ruins na água, provocados por geosmina, composto orgânico produzido por bactérias. No verão de 2023, os consumidores não correm este risco?

Não há este risco. Com os investimentos em tecnologia feitos pela Cedae, conseguimos eliminar este problema já no verão passado. Instalamos oito boias de ultrassom na lagoa de captação, com tecnologia que impede a proliferação das algas que produzem a geosmina; e reforçamos o sistema de bombeamento de água do Rio Guandu para a lagoa, que resfria a água e acelera a vazão, dificultando a proliferação das algas. Além disso, estão em andamento as obras de reforma e melhoria da ETA Guandu, com investimentos de R$ 800 milhões. As intervenções incluem reforma total das instalações, construção de um novo laboratório de qualidade e aquisição de equipamentos. Também faremos a modernização dos filtros, maior eficiência no processo de limpeza dos decantadores, substituição de válvulas, reformulação do Centro de Controle Operacional (CCO) e do sistema de monitoramento.

 

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