A entrevista com Rodrigo Teixeira estava marcada para o meio-dia desta sexta-feira (28) e, a seu pedido, passou para as 12h30m. No horário combinado, ele atende o telefone e, como tomava seu café da manhã (isso mesmo), pede para a conversa dar-se dali a uma hora. Um dos produtores de “Ainda estou aqui”, Rodrigo está em Los Angeles com a delegação que vai acompanhar a cerimônia do Oscar, no domingo (02 de março). Se eram 12h30m no Brasil, lá eram 7h30m da matina. O corre-corre por lá não dá trégua, como ele mesmo conta quando a entrevista de fato se dá. “Há muitas demandas dos Estados Unidos, da Europa e do Brasil que fazem com que os dias pareçam mais longos”, explica ele ao NEW MAG ainda sob efeito do Jet lag. A seguir, o produtor fala das expectativas em torno da cerimônia do Oscar,na qual o filme concorre em três categorias, enaltece a potência de Fernanda Torres e rememora experiências como a de ter trabalhado no longa “Me chame pelo teu nome”, que arrebatou plateias mundo afora, e a que levou-o a participar de uma joint venture com um de seus ídolos: Martin Scorsese. “Eu faço cinema por causa dele”, reconhece o produtor que, aos 48 anos, fez do cinema seu “caminho de vida” como ele mesmo atesta.
Como está o clima entre vocês? Estão conseguindo dormir tranquilamente?
O clima entre nós é muito bom. Há o cansaço em razão da diferença de fuso (horário) e do Jet-lag. Há também muitas demandas daqui dos Estados Unidos, da Europa e do Brasil que fazem com que os dias pareçam mais longos. Cada um de nós está reagindo a seu modo (à proximidade da premiação). Acho que a ficha só vai cair mesmo no domingo.
O filme concorre em três categorias. Estão confiantes de que ele pode levar a melhor em alguma delas?
Existe uma chance real de o filme ganhar em alguma das categorias, mas qualquer coisa que eu diga estará na esfera das especulações. As expectativas são grandes e estão relacionadas às nossas individualidades. A nossa vitória já é a de estarmos aqui, nomeados e concorrendo, e esse momento já representa uma grande conquista.
Fernanda Torres mostra ao mundo a atriz potente que é. Como produtor, acha que ela deve investir no mercado internacional?
A Fernanda tem uma carreira que fala por si. Ela é uma atriz realizada na sua profissão e bem vista não somente no Brasil como em qualquer outro país. E ela tem agora nas mãos um poder de escolha fenomenal. Ela é culta, brilhante e vai saber ponderar sobre o que poderá ser melhor para ela.
Você tem 48 anos e está envolvido com projetos no Brasil e no exterior. Essa trajetória foi planejada ou aconteceu de forma espontânea?
Ela foi desejada. Sempre quis isso. Amo cinema e optei por isso. Esse é o meu caminho profissional e de vida. Perdi meu pai muito cedo, e o cinema me ajudou a superar essa perda. Sou grato por tudo o que o cinema me trouxe, de bom e de mau, das alegrias às tristezas.
Me chame pelo teu nome, também inspirado numa obra literária, arrebatou plateias e chegou ao Oscar. O que um projeto precisa ter para te atrair?
Antes de produtor, sou audiência. E, sob este aspecto, não sou uma audiência segmentada ou de nicho, pelo contrário: sou bem aberto. Se vejo potencial numa ideia, vou adiante, e isso pode tanto surgir a partir da leitura de um roteiro ou de um livro. Minha cinefilia é abrangente. E tanto faz se uma estória vai ser contada na Romênia, na Croácia ou no Brasil. O importante é que ela seja contada.
Você criou uma coleção de livros inspirada nos times de futebol. Pensa em voltar a trabalhar com idealização de livros ou o cinema te pegou de jeito?
Penso. E há uma ideia que me ocorre já há muitos anos e que penso que seja agora o momento para colocá-la em prática.
E qual projeto é esse?
Não posso te contar ainda. A ideia é tão boa que, se eu falar agora, alguém irá pegá-la e realizá-la antes (risos).
Entrando no âmbito pessoal, você namora a cineasta Carolina Jabor. O fato de serem do mesmo segmento facilita o entendimento entre vocês?
Estamos juntos há três anos. Não moramos juntos, mas podemos nos considerar casados. A Carolina é uma ótima companheira. Ela é minha parceira na arte e na vida.
Você participou de uma joint venture com o Martin Scorsese, através da qual realizou três filmes. Como se deu essa aproximação? Chegou a ficar intimidado pela figura dele?
Num primeiro momento sim. O agente dele assistiu a “Francis Ha” (filme de 2012) e me convidou para a joint venture. E fiquei intimidado não pelo fato de ser brasileiro e fã dele, mas por ele ser um dos responsáveis por eu gostar de cinema. Os filmes dele mexeram e mexem comigo. Eu faço cinema por causa dele.
Da mesma forma que “Ainda estou aqui” atraiu novamente o público às salas de cinema, acha que essa boa fase pode significar mais investimentos em produções brasileiras?
Acho que sim. Há uma conjunção positiva em torno do nosso cinema e isso fica evidente no retorno do público às salas, em razão de “Ainda estou aqui” e também do “Auto da Compadecida”. Pode ser que essa boa fase reflita também em mais investimentos, que devem contemplar outras produções. Até porque nem toda produção terá o mesmo desempenho de “Ainda estou aqui” ou o de um “Auto da compadecida”.
Créditos: Christovam de Chevalier (texto) e divulgação (imagem)