Jojo Todynho é um exemplo de mulher que não teme dizer o que pensa. Ela entendeu, desde cedo, que a vida não é fácil. Revelada no clipe “Vai malandra” (2017), da cantora Anitta, a artista botou o país para cantar e dançar com ela o hit “Que tiro foi esse?”. Em 2020, brilhou e venceu o reality “A fazenda”, da Record. Autêntica e despachada, comanda, no Multishow, o talk show “Jojo nove e meia”, numa referência gaiata ao programa apresentado por Jô Soares (1938-2022) no SBT. Recentemente, lançou o álbum “Jojo como você nunca viu”, com inéditas e releituras de sambas. Generosa e antenada, dá aquela força ao cantor e compositor WD em “Verdadeira brasileira”, faixa principal do EP do artista, cujo clipe foi gravado na Rocinha. Em entrevista ao NEW MAG, Jojo abre o jogo e fala da importância da representatividade, de feminismo, dos legados de mulheres como Frida Kahlo (1907-1954) e Whitney Houston (1963-2012), além, é claro, da sua participação na Central da Copa. “A TV Globo está tendo um carinho muito grande comigo”, reconhece ela. E tem mesmo razões para isso, afinal Jojo é um sucesso.
O clipe de ‘Verdadeira brasileira’ foi gravado na Rocinha. Como foi a reação dos moradores à sua presença na favela?
Foi gostoso esse carinho porque eu sempre estive na favela, eu sou da favela. Encontrar comigo não é algo difícil porque eu vou ao mercado, ao shopping, e faço de tudo. É claro que, de uns tempos para cá, é raro eu entrar e estar ativa nas comunidades, mas as pessoas falam muito comigo na rua. Minha equipe e eu rimos muito lembrando de momentos vividos. Tinha uma senhora que estava escondida no bar que fazia parte do set porque queria tirar uma foto comigo. Eu só sei que apareceu o marido dela com uns rombos na cabeça e uma sacola de mercado. Fizemos a foto, e ela falou com ele assim na minha frente: “Tá vendo? Eu não sou pouca merda, não, tá? Tirei foto com a Jojo Todynho!” (risos).
Qual o peso da responsabilidade de trazer consigo a favela e a periferia?
Eu já falei sobre a importância de as pessoas se sentirem vivas e ouvidas. Quando a gente dá visibilidade e traz as pessoas do morro para fazer, estou mostrando para elas que, nós, da favela, não somos excluídos da sociedade. Nós estamos aqui para lutar e falar por eles. E se a gente achar que a gente não deve falar por eles, nós vamos colocar para reverberar e fazer. É isso. A música “Verdadeira brasileira” conta sobre a mulher que rala, dá duro, é mãe, tia, é de todos os modos, mas que, no fim de semana, quer a cervejinha gelada dela, a linguicinha acebolada, o torresminho e não quer guerra com ninguém. E me identifico com essa música porque eu sou exatamente isso. Trabalho para caralho e, quando tenho as minhas oportunidades, quero beber e extravasar. Ultimamente não estou podendo muito porque só estou trabalhando e fazendo obra.
Qual a importância de compor músicas que tratem da liberdade feminina?
Estamos na luta contra o machismo, que é algo estrutural, e acho que nunca vai acabar. Por muitos anos, fomos e somos silenciadas o tempo todo e, quando a gente chega para contar a história de uma mulher, ela se sente ouvida. Esses dias, falei com uma amiga pelo whatsapp sobre a (pintora mexicana) Frida Kahlo e a (cantora norte-americana) Whitney Houston. Por que elas são símbolos de feminilidade? Porque são duas mulheres talentosíssimas que se deixaram levar pelo amor de homens que, ao invés de protegê-las, destruíram a vida delas. Elas deixaram para gente referências como a de sermos nós mesmas, independentemente de qualquer coisa. Não ame mais alguém do que a você. Gente, a Frida pintava deitada. Mesmo com todos os problemas ela estava ali! A voz da Whitney é uma coisa absurda e não tem artista como ela! É claro que temos outras cantoras que cantam muito, sou fã, mas com a voz da Whitney, esqueça tudo, não tem. São mulheres que foram muito empoderadas e à frente do tempo delas, mas que, infelizmente, tentaram se encaixar em um padrão que não existe. E estamos quebrando isso hoje. Nas minhas músicas, sempre gosto de escrever a frase: “Mulheres levantam mulheres”. É sobre entender o seu espaço e entender que você, mais do que ninguém, é responsável pela sua felicidade.
Você não tem medo de arriscar e entra de cabeça nas coias. Você pensa muito antes de aceitar os convites de trabalho?
Mas é claro! Eu acho que é sempre importante pensar e entender como tudo vai acontecer.
Como foi para você aceitar o convite da Central da Copa?
Fiquei muito impactada. Não entendia nada de Copa e de futebol e como poderia aceitar um convite para entrar em um estúdio e fazer comentários sobre o esporte? Daí a produção me falou que não seria só para comentar sobre futebol, que de comentaristas já teriam o Alex Escobar e o Fred. Futebol também tem muito a ver com humor, com a união das famílias e dos amigos. Eu, com meu jeito de ser, tornaria este encontro divertido e muito legal para comentar sobre coisas engraçadas, sobre a gafe de algum jogador, entre outros assuntos. A partir daí, fui entendendo como tudo funcionava e, para mim, foi ótimo ter aceitado. A TV Globo está tendo um carinho muito grande comigo, eo trabalho está sendo muito divertido.
O trabalho como comentarista mudou sua visão sobre o jornalismo e sua relação com a imprensa?
Sim. Estou neste caminho há cinco anos e sou muito grata pelo carinho e o amor de todos. Um amor meio controverso, porque tem dias que as pessoas me amam e tem dias que as pessoas parecem que me odeiam, mas nunca me cancelam (risos). Mais é isso aí, eu fico muito feliz. Acho o trabalho no jornalismo uma coisa linda, e a profissão do jornalista é muito importante. Acho que vocês precisam ser mais valorizados. É claro, que, às vezes, vocês sabem como é, respondo de forma grossa porque sou provocada (risos), mas acho o trabalho muito bonito.
Crédito da foto: Reprodução.