por Waldir Leite*
Nonada. Um dos livros mais emblemáticos da literatura brasileira chega ao cinema pelas mãos da diretora Bia Lessa. Diante de um Cine Odeon lotado foi apresentado, na noite de domingo, no Festival do Rio, o filme “O diabo na rua no meio do redemunho”, adaptação de “Grande sertão: veredas”, obra-prima de Guimarães Rosa (1908-1967).
A comovente história de amor entre Riobaldo e Diadorim surpreendeu o público com uma linguagem que mistura teatro, cinema e literatura. O ponto de partida é a peça que Bia dirigiu em 2017 com Caio Blat e Luiza Lemmertz nos papéis principais e tendo Luisa Arraes e Leonardo Miggiorin no elenco.
Mais do que filmar a peça, a diretora imprimiu uma linguagem de cinema à montagem teatral dando um resultado espetaculoso ao filme, consequência de todo um projeto artístico em torno do escritor mineiro. Em 2006 Bia Lessa realizou uma exposição sobre “Grande sertão: veredas” que inaugurou o Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo.
E montou, em 2017, espetáculo que trazia o livro para os palcos, e que não era apenas uma peça, mas também uma instalação, com identidade visual que recriou o sertão de Minas num cenário engenhoso. Foi um grande sucesso de público e crítica.
E é esse espetáculo-instalação que a diretora transformou em filme. Para valorizar e reiterar o caráter literário, origem de todo o projeto, a diretora acrescentou legendas às falas dos personagens, para que o espectador possa saborear a prosa original e inovadora do escritor.
Algumas sequências chamam atenção pela beleza e criatividade da encenação, como as cenas de batalhas entre os jagunços, ou quando o bando de Riobaldo mergulha num rio cenográfico cuja criatividade artística transforma em algo crível – e convincente.
Impossível não destacar a beleza da trilha sonora de Egberto Gismonti e a atuação visceral do elenco. “O diabo na rua no meio de redemunho” é um filme inteligente, singelo, ousado e transgressor.
Crédito das imagens: Cristina Granato
*especialmente para NEW MAG