Marina Colassanti é um raro exemplo de escritora que experimentou diferentes caminhos literários atingindo grau de excelência em todos eles. A autora transitava com frequência entre a poesia e a prosa, sendo que, nesta última, abriu um leque de possibilidades para expressar-se através de contos, crônicas, livros infantis e do resgate da memória de sua família.
O que faz de Marina única no seu ofício? A pergunta foi feita por NEW MAG a quatro importantes escritores brasileiros nesta terça-feira (28), quando a escritora de 87 anos saiu de cena imortalizando-se em mais de 70 títulos lançados. São eles a romancista Ana Maria Machado, a ensaísta Rosiska Darcy de Oliveira e os poetas Elisa Lucinda e Geraldo Carneiro.
– Marina foi uma pessoa de rara coragem existencial, difícil de se encontrar. Todas nós, mulheres brasileiras, devemos muito a ela, ao papel pioneiro e lúcido que desempenhou em nosso jornalismo, ao exemplo de vida que nos deu, à qualidade única das obras de arte que criou com seus textos e traços, para todas as idades – destaca a imortal Ana Maria Machado, revelando ainda um privilégio usufruído por ela: – Ela foi uma das melhores companheiras de viagem de cuja proximidade desfrutei vida afora. E viajar juntas é um teste definitivo de convívio. Conviver com ela era uma delícia.
A também imortal Rosiska Darcy de Oliveira conheceu Marina ao voltar do exílio, no início dos anos 1980. E começou ali uma amizade que manteve-se inabalada nas décadas seguintes.
– Marina foi um presente que o Brasil ganhou quando ela era ainda pequena. Eu ganhei Marina quando voltei do exílio e fomos amigas até hoje. Comunicava a tudo que fazia sua própria beleza. Palavras, cores, imagens , a excelência foi a sua marca. O mundo ficou mais pobre.
Farol às mulheres de sua geração, Marina foi também referência às mulheres que viram na poesia sua forma de expressão. Mulheres como Elisa Lucinda, que acabou privando da amizade de Marina e a de seu companheiro, o também poeta Affonso Romano de Sant’Anna.
– Nunca vi lucidez tão elegante, feminismo tão delicado, ativismo tão firme e suave. A literatura de Marina é a de uma mulher libertadora. O jeito destemido e leve como ela nos apresenta o desejo, o sexo e a inteligência da liberdade são incomparáveis. Marina era moderna. Eu a amava – reconhece Elisa
Sim moderna. Sua beleza e seu comportamento alçaram-na à condição de musa aos homens de sua geração. Tal predicado é corroborado pelo poeta e imortal Geraldo Carneiro:
– Marina foi musa, ideóloga e poeta. Muitos encantos numa só pessoa.
Encantos impetrados agora nos seus livros, nos quais inscreveu seu ideário. E ele não há de morrer nunca.
Créditos: Christovam de Chevalier (texto) e divulgação (imagem)