O Rio de Janeiro é uma cidade propensa a musas. E isso desde tempos em que as praias estavam ainda longe de ditar moda. E uma certa cantora lírica deu o que falar no início do século XIX. Bebê Lima e Castro, como ficou conhecida, foi uma das mulheres mais famosas e comentadas da Belle Époque carioca. E ela tem sua história resgatada em livro pelo professor e cravista Marcelo Fagerlande. “Muito além dos salões: Bebê Lima e Castro, musa do Rio de 1900” (7 Letras) é apresentado pelo jornalista e imortal Ruy Castro e será lançado na próxima terça-feira (28), na Janela do Jardim Botânico, Zona Sul do Rio.
São muitos os laços que unem Fagerlande à Bebê. Laços de família, com a licença do clichê. Ele deve a ela a possibilidade de ter adquirido seu primeiro cravo. A cantora era amiga dos avós do músico e, na sua morte, como não tinha herdeiros, seus bens foram destinados aos amigos. Uma joia da artista foi preservada ao longo de anos pela família do autor. A peça acabou vendida por uma senhora causa: para que o então jovem talento do cravo tivesse seu primeiro instrumento de fato.
A obra é ilustrada por mais de 50 imagens – entre fotos raras e reproduções de programas e matérias de jornais – e faz um recorte social e musical do Rio de Janeiro do século retrasado. E a tarefa de levantar esse arsenal não foi fácil. O autor contou, além de horas dedicadas à pesquisa de documentos, com entrevistas com filhos de amigos próximos à biografada e até mesmo com pessoas que trabalharam para ela.
“Onde estivemos por todos esses anos que não soubemos de Violeta — Bebê — Lima e Castro?”, pergunta Ruy na sua apresentação. A pergunta vem (muito) bem a calhar, e a resposta reaviva uma personagem trepidante de muitos verões.