Momento histórico

novembro 15, 2023

Treze grandes nomes das artes são empossados à Academia Brasileira de Cultura no Rio de Janeiro
Os novos membros da Academia Brasileira de Cultura em foto para a posteridade
Viviane Mosé, Antenor Neto, Vanessa Giácomo, José Luiz Mendes, Margareth Menezes, Luana Xavier, Sonia Guajajara, Juma Xipaia, Daniela Mercury, Liniker e Leandro Bellini

Antológica. Assim podemos definir a cerimônia de posse dos novos membros da Academia Brasileira de Cultura (ABC), marcada por fortes emoções. Não teve quem não se comovesse. As cantoras — e agora confrades — Liniker e Daniela Mercury cantaram lindamente o Hino Nacional no início da solenidade. Também chamou atenção a maior diversidade que a Academia passa a ter. Indígenas, negros, pessoas LGBTQIA+, nomes de diferentes áreas (ministras de Estado, inclusive)  ocupam agora cadeiras  que antes pareciam inatingíveis. O evento aconteceu na sede da Fundação Cesgranrio, no Rio de Janeiro, na última terça-feira (14). 

O presidente da ABC, Carlos Alberto Serpa, fez o discurso de abertura. O professor falou da instituição  como um fórum vital à propaganda e à expansão da Cultura brasileira. Um espaço em que as ideias possam florescer e transformar-se em propostas concretas. Ele ainda saudou os novos empossados, que entraram no salão sob muitos aplausos:

— Cada um de vocês já alcançou patamares notáveis. Agora, como imortais desta academia, passam a ter uma responsabilidade ainda maior: a de serem os guardiões da nossa Cultura. Arautos do pensamento crítico e mediadores de um mundo mais conectado e mais harmonioso. 

A primeira a tomar posse foi a ministra da Cultura do governo Lula, Margareth Menezes. Ela herdou a cadeira de número 28, que antes era de Elza Soares (1930-2022) e cuja patronesse é Emilinha Borba (1923-2005). Em sua fala, ela revelou que tornar-se uma imortal era algo inesperado para ela. Ela recordou sua formação como pessoa, demonstrou gratidão aos seus antepassados e à sua trajetória:

— Trago comigo as mulheres que fortaleceram e fortalecem as expressões artísticas do Brasil, em especial, as mulheres negras, indígenas e as minhas ancestrais. 

A ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, é a primeira indígena a ingressar na ABC. Ocupante da cadeira 16, ela reverenciou o seu patrono, Paulo Paulino Guajajara, que morreu em 2019 por atuar, assim como ela, em defesa do povo de sua etnia. 

— Hoje já podemos sonhar com indígenas sendo reitores, reitoras, professores. É para isso que a gente luta. Ainda somos obrigados a escutar que nós temos culturas atrasadas, primitivas, mas é exatamente esse nosso modo de viver, com nossos costumes e tradições, que respeita a Mãe Natureza — declarou. 

A secretária de Articulação e Promoção de Direitos Indígenas, a cacique Juma Xipaia, passa a ocupar a cadeira 46, cujo patrono é o também ativista indígena Marçal De Souza Tupã Y (1920-1983). Em seu discurso, ela alertou à proteção da Amazônia e falou que os povos da floresta precisam ser respeitados. Juma passou toda a cerimônia com a pequena Yanumi, sua filha, no colo

A cantora Daniela Mercury ocupa a cadeira de número 24, cujo patrono é o cantor Gonzaguinha (1945-1991). A cantora agradeceu aos presentes e em especial à companheira, Malu Verçosa, com quem completa dez anos de casada e celebrou seus 40 anos de carreira. 

— Me sinto muito feliz com o reconhecimento pela contribuição como artista, como compositora, como fazedora da minha própria arte e criadora do meu próprio caminho — celebrou. 

Elza Soares (1930-2022), imortal da Academia, passa a ser patronesse da cadeira de número 51. A cantora Liniker é a ocupante e torna-se a primeira mulher trans empossada pela instituição. A artista ficou muito emocionada ao ser diplomada. Ela lembrou de sua infância em Araraquara (SP) e agradeceu a sua mãe, Ângela Barros, e à família: 

— Venho de uma família de artistas pretos. O samba é meu berço, me deu estrutura. Fico muito feliz de ter tido as melhores aulas de música no quintal da minha casa. Foram as melhores experiências, com as melhores pessoas naquele momento. 

Glória Pires ocupa a cadeira de número 42, cujo patrono é seu pai, o ator Antônio Carlos Pires (1927-2005). A atriz declarou que seu pai é até hoje sua bússola, um exemplo de ética e moral:

— Tive um pai feminista, amoroso, participativo nos afazeres da casa. Sua dedicação e paciência me ensinaram a controlar a ansiedade e me orientaram no ofício artístico. Era um colega reconhecido por todos por seu bom humor, seu bom senso e seu espírito humanitário. 

A dama do samba e agora imortal Alcione tomou posse na cadeira de número 30, cuja patronesse é Angela Maria (1920-2018), referência para ela. Além de agradecer à Academia, em vez de discurso, deu um show ao cantar a toada de Bumba meu Boi de Maracanã, que faz parte do São João de São Luís do Maranhão, sua terra natal. Se não fosse assim, não seria a Marrom.

A atriz e apresentadora Luana Xavier foi às lágrimas ao lembrar da sua avó e patronesse na cadeira, a também atriz Chica Xavier (1932-2020). Ela recordou que Chica já dizia que ela era uma artista desde criança. 

A escritora e professora Conceição Evaristo, ovacionada pela plateia, lembrou de sua infância na periferia de Belo Horizonte (MG) e de sua mudança para o Rio de Janeiro, onde cursou mestrado e doutorado. Em sua fala,  fez citação à célebre frase “A gente combinamos de não morrer”, escrita por ela no livro “Olhos d’água”. Ela é ocupante da cadeira 34, cujo patrono é Machado de Assis (1839-1908).

A atriz Vanessa Giácomo, certamente a mais jovem integrante, emocionou-se ao falar de sua família, que sempre a apoiou na carreira artística. Paulo Lima, seu pai, estava presente e visivelmente orgulhoso da filha. A artista ocupa a cadeira 55 e tem como patrono Chico Anysio (1931-2012). 

Também tomaram posse a poeta e filósofa Viviane Mosé na cadeira 48, cujo patrono é Nietzsche (1844-1900); o diretor teatral José Luiz Ribeiro (cadeira 53, do patrono Murilo Mendes) e o gestor cultural da Firjan e do Sesi-RJ, Antenor Neto, à cadeira 52, do patrono Pixinguinha (1897-1973).

Créditos das imagens: Veronica Pontes e Marcelo Borgongino

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