‘Minha vontade de reabrir teatros nunca vai acabar’

fevereiro 13, 2022

O produtor cultural Frederico Reder fala sobre vida, carreira, novos trabalhos e as dificuldades com a pandemia

Frederico Reder é diretor, produtor e empreendedor cultural. Dono de seis teatros, entre eles, o Teatro Claro e o Teatro Iguatemi Campinas, é também proprietário do Reder Circus e do Tivoli Park. Produtor de grandes espetáculos como ‘60 – Década de Arromba’ e ‘70 – Divino Maravilhoso’, Frederico Reder se prepara para lançar o novo trabalho, ‘Vozes’, que estreia ainda este ano, e garante, em uma conversa com o New Mag: “80 vai chegar!” Ao lado de Marcos Nauer, ele se orgulha de, juntos, terem criado o gênero Doc Musical que, como ele mesmo explica, trata-se de um teatro com uma narrativa cronológica, mas sem a dramaturgia tradicional. Confira abaixo como foi essa deliciosa conversa com nosso convidado especial.

Você começou a trabalhar, ainda criança, aos 9 anos de idade como ator no teatro. Você sente saudade de atuar?

Eu amo estar em cena. Essa coisa de começar a vida tão jovem, com 9 anos, já fazendo teatro, já ganhando meu dinheirinho de ator-mirim, isso foi maravilhoso. Sinto muita saudade e acaba que eu fico matando essa saudade no dia a dia do circo, quando estou no picadeiro, em cena e falo o meu “Senhoras e senhores”. Esse é o momento que eu me conecto com o melhor de mim, que é dedicar meu corpo, minha energia, minha voz, a minha existência a promover e praticar com as pessoas a felicidade, a proporcionar a felicidade. O grande propósito da minha vida é fazer as pessoas felizes, então quando eu entro em cena no circo, eu estou ali para apresentar pra todo mundo a superação humana e a felicidade como uma prioridade. Mas um dia, quem sabe, fazer um espetáculo de teatro como personagem, ou um stand up? Tem chance!

Você dirigiu, ao lado do Marcos Nauer, e produziu os espetáculos ’60 – Década de Arromba’, com a Wanderléa, e ’70 – Divino Maravilhoso’, com Baby do Brasil e As Frenéticas. Quando vamos ver o musical ’80 Doc’? Quem são os cinco artistas que não podem faltar numa montagem sobre a década de 80?

‘80’ vai chegar! Mas uma coisa maravilhosa que aconteceu no ‘60’ e no ‘70’ foi que, junto com o Marcos, porque o Marcos faz pesquisa e escreve, e eu dirijo o show e faço direção de produção. Eu falo que tudo que é inteligente é dele e toda aquela parte de show, de viadagem, é minha, que é o grande bacana da produção, das coreografias, dos figurinos, de toda essa equipe criativa maravilhosa que eu tenho comigo. Quem fica um pouco direcionando essa equipe sou eu. Mas o Marcos é um parceiro para a vida, uma pessoa que mora no meu coração. A gente ainda tem muito a fazer e o ‘80’ vai ser mais um, mas teremos muitos outros. Antes, nós teremos o “Vozes”, espetáculo que estreia ainda este ano, que estávamos ensaiando antes da pandemia. A minha parceria com o Marcos tem um filho, uma coisa maravilhosa, que é esse gênero Doc Musical. Foi um fenômeno com a Wanderléa no ‘60’ e uma maravilha com a Baby e as Frenéticas, um presente reviver a década do Divino Maravilhoso. Eu sou muito feliz com essa parceria. Então vem o ‘Vozes’, vem o ‘80’ e muitos outros. É um gênero que nasceu numa dificuldade, no meio da produção, nós tivemos que redirecionar o caminho. E eu tenho certeza, assim como eu acredito nos abracadabras da vida, no poder da palavra, na Lei da Atração, eu acredito que toda a dificuldade ou toda a possibilidade que a gente tem de se superar, como já induz um pouco a palavra, a gente fica melhor do que a gente era, a gente evolui. Foi uma superação nossa criar esse gênero Doc Musical, e eu sou muito orgulhoso disso. É uma coisa que até então não existia, que é teatro com uma narrativa cronológica, sem a dramaturgia tradicional. Contar uma década, um gênero ou um momento, um recorte através da música, dos costumes, da moda. Foi maravilhoso e eu tenho muito afeto pelo ‘60’, pelo ‘70’ e saudade do que nós ainda não fizemos, que é o ‘80’. Essa saudade nós vamos matar muito em breve também. Eu amo teatro, eu amo música, eu amo documentário. Doc Musical pra mim é um orgulho eterno.

Você arrendou o antigo Teatro Tereza Rachel, que havia virado igreja evangélica, e o transformou num teatro novo e moderno – o Teatro Claro Rio. Você chegou a declarar que gostaria de reativar o histórico Teatro Opinião, no Rio. Você continua com esta vontade?

Nossa, quantos assuntos bons. Falar do início, do Tereza Rachel, lá em 2009, 2010, quando eu comecei a negociar com ela, foi um presente. Tivemos muitas reuniões, até que depois de ela negociar com muitas pessoas, um dia ela me liga e diz que aceitou minha proposta. Foi a grande virada da minha vida. Poder devolver ao Rio de Janeiro, aos cariocas e à cultura do Brasil e do mundo um palco tão importante pro cenário, depois de virar igreja, foi um presentaço. Sou muito grato pela oportunidade que eu tive nesta vida de reconstruir um teatro. Construí outros, com muito carinho, com muito afeto, mas esse foi o primeiro, e o primeiro filho faz a gente aprender a ser pai. Eu aprendi… aliás, eu comecei, porque aprendi é muito pretencioso. Mas eu comecei a minha vida enquanto operário do teatro, enquanto fazedor de casa de espetáculo, no Tereza Rachel. Sobre o Opinião, quando eu vejo um teatro fechado, é sempre uma vontade de reabri-lo. Os momentos são outros no nosso país, com essa pandemia, tudo deu uma reinventada. Eu acho que há espaço para muitos teatros. O teatro que a gente faz é um teatro difícil de se sustentar, de se pagar, mas a gente lutando com os incentivos, com as empresas parceiras, com uma equipe muito dedicada, a gente consegue. O Opinião seria uma maravilha, um presente tê-lo de volta, mas não sei. Só sei que, se tiver que acontecer, eu vou estar pronto para isso. E se não for para ser na minha mão, que seja na mão de alguém, mas que o Opinião possa voltar um dia e que o Rio de Janeiro possa ter mais teatros, mais cinemas, mais culturas, mais galerias, mais museus, mais palcos, mais circos, mais parques. Eu acho que quanto mais cultura, quanto mais informação, quanto mais educação, mais opinião as pessoas vão ter. E quanto mais opinião, eu acho que um mundo mais justo nós teremos. Hoje eu não posso dizer se vou fazer, mas a minha vontade de reabrir teatros nunca vai acabar.

Você tem seis teatros e também está à frente do novo Tivoli Park e do Reder Circus. Quantos empregos você gera atualmente?

Ah, que loucura, né? Os teatros todos fechando na pandemia, o Circus ficou fechado tanto tempo, voltamos em outubro… O Tivoli Park, eu e a minha história de reviver o passado, reviver os melhores tempos. Eu usei muito uma campanha, “É tempo de viver e reviver o melhor”. A gente tem que valorizar a vida, descobrir que a vida é hoje. Eu tenho muito orgulho de ser um fazedor de arte, eu sou um arteiro. Antes da pandemia, os teatros estavam gerando muito mais empregos. O circo também. Tivemos que dar uma reduzidinha em tudo, mas acho que, entre empregos diretos e indiretos, hoje a gente fala em 400, 500, penso que seja alguma coisa assim, porque só no Tivoli nós temos uns 150, entre prestadores de serviços, terceirizados. No Circus, uns 150, e nos outros teatros um pouquinho de cada um. Quando voltam as produções, as coisas melhoram, pode dar mais empregos ainda, mas já cheguei a empregar mil pessoas, quando tínhamos mais circos e as produções todas estavam ativas. Esse dia vai voltar! Precisamos gerar mais empregos, mais oportunidades, porque não são empregos, é a oportunidade de cada um viver da sua arte e demonstrar os seus talentos. Eu dedico minha vida a isso também, a fazer pessoas felizes, mas a viabilizar que outros fazedores de cultura estejam em cena.

Por que reviver o Tivoli Park? Você frequentou muito o antigo Tivoli, na Lagoa, no Rio de Janeiro, na infância?

Ah, essa história é tão curiosa. Eu passei muitas vezes na frente do Tivoli Park, até uma história muito boa que eu falei: “Mãe, engraçado, né? Eu nunca ia no Tivoli, meu pai tinha muito medo”. Aspas da Dona Rita, ela disse: “Não, meu filho. Nós não íamos no Tivoli porque era caro”. Aí eu falei: “Não, mãe. Nós não íamos no Tivoli, se você está dizendo que era caro, acho que não era por isso. Acho que a gente que era muito pobre e não tinha dinheiro pra pagar o ingresso”. Essa história eu nunca contei, aconteceu acho que durante a pandemia, conversando em casa com a minha mãe. Hoje eu sou dono do Tivoli, mas em algum momento, eu e minha família não tivemos possibilidade de frequentar por questões econômicas. O mundo gira e, assim como uma montanha-russa, às vezes a gente está de cabeça pra baixo, assim como uma roda gigante, a gente está em cima, a gente está em baixo. O importante é estar em constante movimento, assim como o globo da vida. E nesse momento eu posso possibilitar muitas pessoas a estarem, mesmo sem condições financeiras. Projetos sociais, ONGs… recebo muitos no Tivoli. Em algum momento eu não pude entrar, e hoje eu tenho a alegria e o prazer de receber muitas e muitos. Eu sou muito feliz e muito agradecido por tudo que eu já puder realizar, que eu ainda vou realizar e por poder proporcionar para as pessoas momentos de felicidade e de alegria. O Tivoli Park eu conheci desmontado, em Nova Iguaçu, no terreno do Sr. Orlando Orfei, do qual eu tenho uma alegria enorme de ter herdado seus figurinos, de me considerar quase da família pelo afeto que eu tenho por essa família que eu tanto amo. O desejo de resgatar o Tivoli Park nasce como uma grande homenagem ao Sr. Orlando Orfei e à memória dos cariocas, porque o melhor da vida deve e merece ser vivido e revivido sempre, e o Tivoli é um patrimônio dos cariocas. Enquanto eu puder trabalhar, ele vai se manter vivo, para as novas famílias, para as novas gerações e pra todo mundo que já viveu, poder revisitar sua infância. Viva o Tivoli, viva o Rio de Janeiro e viva os cariocas!

Aos 20 anos você dirigiu um circo na Arábia Saudita. O que você levou desta experiência para o Reder Circus?

Essa história de Arábia Saudita é sempre uma alegria para mim, foi minha grande oportunidade. Eu tinha 19 anos quando eu fui convidado e fui aos 20. Tinha acabado de fazer 20, em fevereiro, e fui em junho, eu acho. Mas em fevereiro eu já estava trabalhando nesse projeto. Foi um presentaço! Eu tive muitos presentes nessa vida e estou pronto para receber vários outros. Este ano eu fiz 38 anos no dia 2 de fevereiro, dia de Iemanjá. Estou pronto para, nesses 38, poder dizer sim paras as outras oportunidades que virão, estou aberto a todas elas. Essa foi a primeira grande oportunidade na minha vida, primeira vez que eu saí do Brasil, saí pra trabalhar. Meu primeiro país foi a Arábia Saudita, quando eu tive a oportunidade de conhecer um pouquinho da Europa, foi quando eu tive a oportunidade de fazer um voo gigante, de passar pelo Egito… A Arábia me ensinou muito, mas o mais importante que ela me ensinou eu tento colocar em prática até hoje. Às vezes eu não consigo. Aliás, melhor, às vezes eu consigo, o que é difícil. Na Arábia Saudita eu aprendi que não existe nem certo, nem errado. Nós vivemos num país onde a monogamia, por conta da nossa religião, comportamento e cultura, é regra, é dito como deve ser vivido. Lá os meus amigos tinham cinco mulheres. A forma de carinho lá é diferente, tudo é diferente. Na nossa religião, a gente pede, a gente faz promessa pra receber alguma coisa. Na Arábia Saudita se agradece. Tenho muita gratidão pela Arábia Saudita porque foi meu momento de crescimento, minha grande oportunidade profissional, dirigir um circo com 40 homens – só podiam trabalhar homens –, meio ao deserto, pra levar felicidade para as pessoas num lugar tão árido. E a oportunidade de estar longe do mundo que eu vivia, com as únicas verdades que eu conhecia, vivendo um novo, me reconhecendo, avaliando, tomando distância pra poder entender em que mundo eu estava inserido. E aí eu pude perceber que o mundo era muito maior e que, além da minha cultura de Brasil, existia muito mais. Isso vai fazer 20 anos já. Eu era muito menino, mas eu já era muito louco e desejava muito aprender, conhecer, reconhecer. A Arábia pra mim foi uma grande escola. Eu admiro muito aquelas pessoas que não se cansam de, pelo menos, cinco vezes ao dia, encostar sua cabeça no chão pra agradecer a Alá. Eles param o que eles estão fazendo, porque a gratidão é a prioridade deles. E a sua maior riqueza é uma riqueza natural, que temos tanto no Brasil e a gente não valoriza, que é a água, que é uma maravilha. Na Arábia, eu nunca esqueço que os grandes monumentos lá são fontes, chafariz. Voltei com uma outra visão da água, desses elementos da natureza. Tive a oportunidade de viver uma tempestade de areia, peguei sensação térmica de 62°C. Foi uma oportunidade de viver coisas inéditas, tão jovem, profissionais, pessoais, humanas. Foi uma experiência incrível. Eu estive na Arábia em 2004, estive em 2006 e um dia eu quero voltar como um novo Fred e com o meu novo circo. Seria uma alegria! Salaam Aleikum, é assim que se fala. Aí respondem: Aleikum Salaam.

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