Era o ano de 2006 quando Jô Soares surpreendeu os telespectadores do seu programa na TV Globo. Naquela noite, no lugar dos entrevistados de praxe, ele reunia um time formado por nomes femininos da imprensa para comentar episódios relevantes do noticiário político. Esse grupo ficou conhecido como as Meninas do Jô e perdurou por 11 anos, variando sua formação. Um nome esteve presente da sua criação ao término: a jornalista Ana Maria Tahan. Ela conversou com NEW MAG na manhã deste sábado (06), quando rememorou a convivência com o apresentador, morto na manhã da última sexta-feira (05).
– Nesses anos todos dedicados ao jornalismo, nunca conheci alguém que reunisse tanto conhecimento cultural como o Jô. Ele conhecia muita coisa e falava sobre tudo com muita propriedade – destaca Tahan logo no início da conversa, por telefone.
A cada participação das Meninas, ele e as convidadas se encontravam no próprio estúdio, minutos antes de a gravação começar. O apresentador deixava a descontração e a conversa fiada para depois, segundo Tahan, quando recebia as convidadas na sua sala.
– As conversas sempre aconteciam depois, quando comentávamos como o debate havia fluído e comemorávamos os acertos – rememora a jornalista destacando a dedicação do apresentador: – Ele era absolutamente dedicado àquilo que decidisse fazer. Se não dominasse o assunto, lia, aprendia e logo se apossava daquilo.
Um episódio que marcou a jornalista foi quando comentaram a fala do então deputado Jair Bolsonaro sobre a deputada Maria do Rosário. O parlamentar comentou, em 2014, que a colega não mereceria ser estuprada por causa de suas características físicas:
– Quando o vídeo foi exibido no telão, alguém na plateia gritou “Viva Bolonaro!”. Jô, estupefato, perguntou quem havia gritado. Era um rapaz, que acabou apontado pela plateia e se acusou. Ele acabou ganhando uma reprimenda do Jô de lavada! Na época, não imaginávamos que, alguns anos depois, outras pessoas pensariam da mesma forma que aquele rapaz.
Uma marca que Tahan quer levar consigo é a do lado humano do amigo:
– As pessoas que integravam a equipe dele estavam ali há muito tempo. Ele era atencioso com todos e sabia da vida de todo mundo. Ele era gente boa mesmo. Era gente de fato!