Oficialmente indicado ao Prêmio Nobel da Paz em 2010, Abdias Nascimento (1914-2011) é ainda um dos maiores expoentes da cultura negra e dos direitos humanos no Brasil e no mundo. Dramaturgo e depois pintor, ele inspirou a direção de Inhotim a criar o Museu de Arte Negra dentro de seu espaço, que recebe, no próximo dia sábado (18), a exposição “Terceiro Ato: Sortilégio”. A instalação aborda o período de exílio do artista, entre 1968 e 1981, evidenciando a difusão da arte negra brasileira no exterior.
– É no exílio que Abdias Nascimento passa a ser internacionalmente reconhecido não só como pintor, mas principalmente como uma das personalidades brasileiras mais preparadas para o enfrentamento ao racismo em suas dimensões estética e estrutural. A experiência acumulada desde a sua participação na Frente Negra Brasileira, nos anos 1930, passando pelo Teatro Experimental do Negro, jornal Quilombo e pela criação do projeto Museu de Arte Negra, contribui para a consolidação de uma biografia que o levou, já próximo do final de sua vida, em 2009, a ser indicado oficialmente ao prêmio Nobel da Paz pelo conjunto da obra – afirma Julio Ricardo Menezes Silva, pesquisador do Ipeafro e coordenador do Museu de Arte Negra virtual.
Constituída por peças de empréstimos e de aquisições recentes do Inhotim, “Terceiro Ato: Sortilégio” traz ao público mais de 180 obras, com trabalhos de Abdias Nascimento e de outros artistas que marcavam presença na cena artística estrangeira no período em que ele esteve fora do Brasil, como Mestre Didi, Rubem Valentim, Melvin Edwards, Regina Vater, Manuel Messias, Emanoel Araujo, Hélio Oiticica, Anna Bella Geiger, Anna Maria Maiolino, Iara Rosa, Romare Bearden, LeRoy Clarke, além de livros e documentos de pesquisa de Abdias sobre o Candomblé e os Orixás.
– Nascimento continuou seu interesse por uma pesquisa que tinha a ancestralidade africana como base para sua produção artística. Assim, essa comunicação constante com a epistemologia das religiões afro-diaspóricas está no cerne de seu pensamento enquanto intelectual e artista – pontuou Deri Andrade, curador assistente do Inhotim.
Crédito de fotos: Museu de Arte Negra/Ipeafro