‘Imensidão da nossa música’

maio 2, 2025

O legado de Nana Caymmi é comentado por cinco grandes cantoras da nova geração na música brasileira

Nana Caymmi teve uma trajetória ímpar na música brasileira. Filha de Dorival Caymmi (1914-2008) e da cantora Stella Maris (1922-2008), ela seguiu seu próprio caminho à margem da sombra familiar. Do brilho nos festivais dos anos 1960 até virar trilha sonora de novelas que embalaram o país, ela se tornou referência em sua arte. E cinco grandes cantoras da nova geração falam ao NEW MAG sobre o legado deixado por Nana, que morreu na noite da última quinta-feira (1º de maio), aos 84 anos, no Rio de Janeiro. 

Com mais de 30 álbuns lançados, Nana imortalizou com seu canto temas como “Clube da esquina” e “Sodade, meu bem, sodade” e “Só louco”. Vanessa Moreno, cantora, compositora e instrumentista, fala das percepções aguçadas pela voz da artista e também de seus ensinamentos.

— Nana é uma imensidão da nossa música. De uma forma muito particular, me ensinou e a várias gerações de cantores, cantoras e pessoas que são conectadas com a música de um jeito muito profundo, a prestar atenção, a sentir as palavras para além do que elas dizem, a ir no cerne da intensidade delas. Ela mergulha em cada palavra como se fosse a coisa mais importante do mundo naquele momento, e é —  avalia, chamando atenção para outra marca da grande intérprete: — Nana traz a palavra com a melodia com a mesma inteireza, isso é muito bonito de sentir. E faz com que a gente sinta as palavras na essência delas. Isso pra mim é muito forte quando ouço a Nana. Fora o timbre único, é um lugar diferente onde a gente entra, fica, e, quando sente saudade, tem que ir lá de vez em quando porque é de uma inteireza sem igual. 

O timbre inigualável de Nana é consenso entre as artistas ouvidas nesta reportagem. Não à toa, ela foi indicada quatro vezes ao Grammy Latino, e venceu em 2004 o prêmio de Melhor  Álbum de Samba/Pagode com um disco produzido ao lado de seus irmãos, Dori e Danilo Caymmi. Júlia Vargas destaca a singularidade do canto de Nana:

— A voz dela era marcante. Tinha um timbre único, inigualável. A sensação que sempre tive ao escutar a voz de Nana, era de acalanto, uma voz que cuida, preenche e abraça a gente.

A emoção e a técnica vocal de Nana vão ser para sempre lembradas. É isso o que observa a cantora, compositora e agora também  influenciadora Patricia Mellodi:

— Muitas cantam bem, mas a Nana canta com sentimento de verdade, esse é o legado dela: a verdade da sua voz com seu timbre único e técnica absolutamente singular, que arrebatam o coração até dos mais insensíveis. 

Se Nana emociona quem a escuta, imagine no caso de quem teve a oportunidade de cantar ao lado dela. Foi o que aconteceu com a cantora Paula Santoro,outro grande nome da nova geração.

— Tive a honra de cantar ao lado dela, de mãos dadas, uma das músicas que mais amo: “Resposta ao tempo”. Foi uma epifania! Era como se eu entendesse a potência de se fazer música só de sentir a vibração e a entrega dela. Nana, te amo! — declara Paula chamando atenção para um dos álbuns de sua predileção: — Nana é a junção entre emoção e lágrimas,voz e suor. E não há título mais perfeito (“Voz e suor”) para um álbum de voz e piano com o grande César Camargo Mariano. 

De sonoridade mais pop, a cantora e compositora Anna Ratto também esteve bem perto de Nana. E pôde testemunhar peculiaridades que fizeram de seu canto único e, como ela própria salienta, inesquecível:

— A voz da Nana atravessa a alma. Suas escolhas tristes, boleros de amores perdidos, atingem qualquer ser humano que vive a vida com intensidade e já amou de verdade. Jamais me esqueço de quando a vi cantar de perto. Coração disparado a cada abertura de boca. Uma emoção fortíssima que não se explica. É o poder da Nana. Um poder poderosíssimo… Sua voz jamais vai deixar de ecoar. 

Créditos: Bruno Nunes Costa (texto) e divulgação (imagem)

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