A cirurgiã-dentista Claudia Abreu, irmã do escritor Caio Fernando Abreu (1948-1996), viveu, no último fim de semana, algo jamais experimentado. Moradora de Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul, ela e os demais irmãos do escritor gaúcho experimentaram um lampejo de orgulho em meio a tanta tristeza e sensação de impotência, devido aos estragos provocados por aquela que já é a maior tragédia ambiental daquele estado, quiçá do país.
O tal lampejo de orgulho foi provocado pela homenagem a Caio – um dos maiores nomes da literatura brasileira – feita pela cantora Madonna no último sábado (04), na Praia de Copacabana, Zona Sul do Rio de Janeiro, onde a artista encerrou a turnê com que celebra seus 40 anos de carreira. Caio foi um dos artistas brasileiros, cuja vida foi ceifada pela Aids, a ter sua imagem exibida em um dos telões do cenário.
– Devido à falta de energia e à internet falha, não conseguimos assistir à transmissão do show. Consegui ver a homenagem hoje (ontem) pelas redes sociais, dentro do possível. Ficamos agradavelmente surpresos e emocionados – conta ela ao NEW MAG, na noite do último domingo (05), quando foi possível estabelecer contato telefônico.
Claudia usa o verbo no plural pois fala em nome de seus irmãos: Felipe, também morador de Porto Alegre, e Marcia, que vive em Novo Hamburgo, cidade também afetada pelas cheias. Claudia e sua família vivem num cenário de guerra, devido aos estragos provocados pelas chuvas recentes e pela cheia do lago Guaíba. E, nesta segunda-feira (06), precisaram evacuar o prédio onde moram.
A conversa realizada na noite do último domingo foi sucinta. Num lugar onde faltam recursos e insumos, a contenção é regra. Apesar do horror e das incertezas, ainda é possível ser afável.
– Desculpa o contato tão rápido, mas é em razão de todo esse horror que estamos vivendo aqui – justifica ela antes de encerrar a ligação.
Não há pelo que se desculpar. O momento é o de darmos as mãos numa ciranda solidária. Até porque, como bem disse Caio Fernando no seu “Triângulo das águas”, editado originalmente em 1983, “é preciso aprender a se movimentar dentro do silêncio e do tempo”.