por Rodrigo Fonseca*
Sob um frio de menos seis graus, a Berlinale entrou em uma torrente lírica, por vias norueguesas, com o dulcíssimo “Dreams (Sex love)”, de Dag Johan Haugerud, que explodiu nas telas da competição oficial do evento como o mais fofo dos concorrentes já exibidos até agora.
Há um fã-clube em torno desse painel geracional da juventude escandinava que o define como um retrato essencial para o amor queer. Com uma torcida forte, seu realizador se impõe como um ímã de holofotes na Alemanha.
– Saber olhar o outro é um caminho essencial para se criar uma dramaturgia – justifica Haugerud ao NEW MAG, apoiado na força de um elenco encabeçado pela jovem Ella Øverbye e pela veterana Anne Marit Jacobsen, hoje favorita ao Urso de Prata de Melhor Atuação Coadjuvante. – Sonhar é tão importante quanto viver – disse Anne Marit ao festival.
Enxuto, com 110 minutos, “Dreams (Sex love)” é parte de um projeto que o diretor escandinavo tem criado a fim de entender modos de amar, de gozar e de temer o querer. Ele integra uma trilogia antecedida por “Sex” e “Love”, ambos de 2024. Antes, o cineasta de 60 anos rodou “Nossas crianças” (2019).
– A Noruega é um país de mente aberta, mas há questões a serem desafiadas – explicou Haugerud. Na trama de “Dreams (Sex love)”, ele faz uma ode à literatura ao narrar o processo de escrita de uma adolescente (papel de Ella) no registro (em prosa) de suas fantasias sentimentais por uma mulher mais velha.
– A partir do exercício literário, uma pessoa reescrever quem é, pode se escrever de uma forma melhor – disse Haugerud ao NEW MAG, reiterando ainda: – A literatura é uma reinvenção.
A Berlinale chega ao fim neste domingo (23). No sábado (22), o júri presidido pelo diretor Todd Haynes anuncia quem ganha o quê. “O último azul”, do brasileiro Gabriel Mascaro, desponta como favorito ao Urso dourado.
Crédito da imagem: Jan Tomas Espedal
*enviado especial ao Festival de Berlim