“Carlota foi uma das pioneiras da jazz dance no Brasil”. A frase em questão é de Anselmo Zolla, referência na dança e diretor artístico da Studio3 Cia de Dança. A Carlota em questão é outra sumidade no segmento: Carlota Portella, coreógrafa, professora e empresária, que saiu de cena neste sábado (31), aos 74 anos, em razão de causas ainda ignoradas.
O pioneirismo apontado por Zola mostra o quão visionária foi Carlota. Quando as escolas de dança brasileiras eram tributárias do balé clássico somente, Carlota abriu numa casa caiada de branco em plena Rua Jardim Botânico, Zona Sul do Rio de Janeiro, a primeira de outras escolas dedicadas ao estilo de dança que começava a ganhar vulto nos EUA e no mundo,. E isso foi impulsionado por produções como a do musical “Cats” e filmes como “All that jazz”, realizados em fins dos anos 1970. .
– Carlota foi uma das pioneiras do jazz dance no Brasil. Ela aqui chegou com essa linguagem e formou muitos bailarinos. Ela trabalhou muito no Rio de Janeiro e foi uma das pioneiras dentro desse estilo e dentro da dança em geral – destaca Zolla em depoimento ao NEW MAG.
Outras duas características destacadas pelo coreógrafo são a coragem e a resiliência. E elas foram os pilares para Carlota perseverar no ensino do jazz,mantendo em funcionamento sua escola por mais de quatro décadas, como salienta Zolla:
– Ela foi muito corajosa porque sempre enfrentou as dificuldades que a dança oferece. Carlota é uma grande persona da dança, e todo mundo deve reverência a ela.
Alex Neoral nem sonhava em criar a Focus Cia de Dança quando conheceu a coreógrafa. Ele tinha entre 18 e 19 anos quando, integrante da hoje extinta Vacilou Dançou, teve oportunidade de sentir na pele o quão rigorosa era Carlota.
– Tive chance de aprender muito com ela, através de suas falas e ao observá-la, vendo como ela direcionava os bailarinos e conduzia a cena. Ela tinha uma preocupação com a excelência, com a técnica, a estética e uma curiosidade imensa – constata o jovem coreógrafo, destacando outra peculiaridade da maestrina: –Ela era também temperamental, yin e yang, alternando-se entre momentos de muita afetividade e muito rigor. E isso fazia dela ainda mais especial.
Neoral conheceu através de Carlota a obra de Astor Piazzolla (1921-1992). E viu, anos mais tarde, que aqueles temas poderiam ser coreografados, o que se concretizou no espetáculo “Carlota – Focus dança Piazzolla”, apresentado em 2023, como ele rememora:
– Ela me fez ver dança em Piazzolla e tive a feliz ideia de homenageá-la num espetáculo com ela ainda viva. Fico feliz por ter dado a ela esse presente como ela nos presenteou com sua sabedoria nos espetáculos, nas aulas e em tantos outros projetos. Viva Carlota Portella!
Viva!
Crédito das imagens: Divulgação (alto), Leandro Menezes e Cristina Granato
