Gênio inventivo

outubro 29, 2024

No dia em que Nelson Motta completa 80 anos destacamos algumas das (r)evoluções provocadas por ele no jornalismo brasileiro

“Nada do que foi será\De novo do jeito que já foi um dia”… O Brasil sabe de cor os versos de “Como uma onda”, canção que alçou Lulu Santos ao panteão de htmaker onde está até hoje e que traduz bem o espírito inovador de seu letrista. Estamos falando de Nelson Motta. Atento aos fatos, como grande jornalista que é, e dono de um faro aguçado para novidades, Nelsinho abriu picadas para a modernidade em todas as áreas em que atua – do jornalismo à música, da literatura ao empreendedorismo como empresário. E chega, nesta terça-feira (29), aos 80 anos mostrando que etarismo e aposentadoria são passam batidas por sua vida prática.

Houve um tempo, no início dos anos 1970, que as matérias de telejornais eram filmadas em película. E precisavam ser editadas (montadas, melhor dizendo) em moviolas, como no cinema. O jornalismo era sisudo e coube a um jovem repórter quebrar esse paradigma. OE esse profissional era Nelson Motta. Inteligente e carismático, era respeitado por artistas, sempre arrancando boas respostas deles, sem nunca cair na armadilha da matéria chapa branca tão em voga hoje em dia. Um exemplo está na sua abordagem a Glauber Rocha (1939-1981), papa do Cinema Novo, na estreia do show dos Doces Bárbaros no Canecão, em 1976.

Como na canção do célebre show, Nelsinho preparava a invasão  “com amor no coração”. Essa característica o acompanhou em todas as áreas  em que atuou, mas vamos nos manter aqui no âmbito do jornalismo. Na época do Jornal Hoje, que trouxe leveza ao jornalismo da TV Globo, Alice Maria começou a ficar preocupada com o fato de a equipe chegar, aos sábados, em horários próximos ao de o telejornal ir ao ar.

– Vou proibir vocês de saírem nas noites de sexta – ameaçou a manda-chuva recebendo de Nelsinho o sábio conselho:

– Não proíbe que vai ser pior…

Nelsinho na época do Hoje

No início da década seguinte, Nelsinho traria outro sopro de modernidade ao jornalismo brasileiro. Ali por 1982, com a ditadura nos estertores, ele e Scarlet Moon (1950-2013) levaram ao ar um programa de entrevistas cujos pilares sustentam as atrações do gênero até hoje. O programa em questão era o “Noites cariocas” no qual, com inteligência e irreverência, os apresentadores mostravam que as conversas podiam, sim , ser leves e instigantes.

E inovaram ao entrevistarem grandes personalidades como os Reis Pelé (1940-2022) e Roberto Carlos e o astro internacional Marcello Mastroianni (1924-1996) então no Brasil para as filmagens de “Gabriela”, de Bruno Barreto. E, ao mesmo tempo em que recebiam esses figurões, abriram alas à cena underground ao entrevistarem a transformista Jane di Castro (1947-2020) e a então prostitua (sim, prostituta) Gabriela Silva Leite (1951-2013), duas atitudes ousadas para a época.

Na outra década, outra virada. Insatisfeito com o resultado das eleições de 1989 – as primeiras da redemocratização pós-Constituinte – Nelsinho faz as malas e ruma a Nova York. Ali, integra a bancada de um programa de debates que revolucionaria a TV por assinatura, recém-chegada no país. A atração era o Manhattan Connection, que, na sua primeira formação,  contava ainda com Lucas Mendes, Caio Blinder e Paulo Francis (1930-1997).

Inteligência e descontração estavam, mais uma vez,  entre os ingredientes, num resultado até hoje inimitável por similares na hoje expandida TV a cabo, cada vez mais “fechada” em si.

São muitos os êxitos, mas Nelson Motta costuma repetir que o aprendizado foi adquirido com os fracassos. De cada um deles eles, saiu revigorado e mais sedento por novidades. E é assim que ele chega aos 80 anos como uma das mais perfeitas invenções de si próprio.

Ou, pegando uma carona em um de seus clássicos musicais, como uma das mais fascinantes “coisas do Brasil”. Esse mesmo Brasil que ele, munido de tanta inventividade, ajudou a modernizar.

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