Gênio aberto ao público

setembro 5, 2024

Obra inacabada de Mário de Andrade chega aos palcos acessível ao público, corroborando ideias humanistas do escritor

Uma das premissas do Modernismo era a de valorizar nossas características e idiossincrasias. E valia também subverter certos cânones do pensamento ocidental. Foi o que o escritor Mário de Andrade (1893-1945) fez com Platão. Mais exatamente com “O banquete” clássico do filósofo grego. Se a obra original refletia sobre os meandros do amor, a de Mário discutiu questões relacionadas à arte e à consciência de nossa cidadania. Esse libelo, deixado inacabado, pelo escritor, chega aos palcos do Rio de Janeiro, numa temporada que oferecerá sessões gratuitas e outras, a preços populares.

Esse banquete teatral será promovido pela Companhia Ensaio Aberto, criada há 32 anos tendo como proposta espetáculos de forte reflexão política. A temporada ocupa, a partir de sábado (07), o Teatro Vianinha (apelido do saudoso dramaturgo Oduvaldo Vianna Filho), recém-inaugurado no Armazém da Utopia, na Zona Portuária do Rio de Janeiro. Da estreia ao dia 27, as sessões serão gratuitas e, desta data a 11 de novembro, as apresentações terão preços populares.

Os textos de “O banquete” foram publicados originalmente como crônicas na seção “Mundo musical” do jornal Folha da Manhã. Em 1943, o escritor decidiu reuni-las em livro, mas o projeto foi interrompido por sua morte dois anos depois. Ainda assim, os escritos proporcionam um embate entre pensamentos da elite e do artista naqueles anos 1940.

Mário faz, ao longo dos textos, críticas ao ensino da música e à pompa de citar em francês ou inglês artistas de outras nacionalidades. “Se já não pode ser o escrúpulo do original, pois se trata de tradução, o melhor é traduzir já duma vez à nossa língua”, protesta um dos personagens na contenda. Essa visão crítica da sociedade foi um dos chamarizes à ideia de levar a obra ao palco.

– Mais uma vez recorremos à nossa herança negra, reconhecendo, como Mário, que não pode haver uma cultura nacional, popular, se virarmos as costas para essa herança – celebra Luiz Fernando Lobo, diretor da companhia e do espetáculo, cuja direção de produção é de Tuca Moraes que também atua na encenação.

Esse olhar do escritor sobre o Brasil vem bem a calhar quando representantes do obscurantismo ateiam – literalmente – fogo no país. Que Mário de Andrade resgate nossa dignidade.

A atriz e produtora Tuca Moraes e o diretor Luiz Fernando Lobo
Uma das cenas de “O banquete”

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