Era para ser apenas uma live, apresentada no primeiro ano da pandemia. Mas a coisa ganhou corpo. O show em que Ana Cañas debruça-se sobre parte do cancioneiro de Belchior (1946-2017), rendeu um álbum, escolhido o melhor de 2021 pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA).
E natural que ganhasse também os palcos. O show chega agora ao estado do Rio de Janeiro após ser apresentado em 130 cidades. E chega chegando, como se diz. A artista fará, a partir desta quarta (25), apresentações nos teatros Sesi Firjan do Centro do Rio e em Jacarepaguá, além de apresentações em Duque de Caxias, na Baixada, e em Campos dos Goytacazes, no Norte fluminense.
– O desafio maior é, para mim, o de alinhar uma verdade do espírito quando se interpreta canções desse quilate – reconhece ela, em depoimento ao NEW MAG.
As canções às quais se refere são clássicos renovados por ela. São temas como “Velha roupa colorida”, “Sujeito de sorte” e, claro, “Como nossos pais”, lançada por Elis Regina no LP “Falso brilhante” (1976).
Sim, a artista repesca (e burila) pérolas, mas está atenta também a novidades. A ponto de ganhar de dois dos filhos do homenageado, Mikael e Camila, uma canção inédita. O mimo é “Um role no céu”, parceria de Belchior com Gracco.
E o risco de mergulhar no universo do compositor não intimidou a artista. Ela não somente encheu os pulmões de ar, como voltou à superfície renovada – e transformada, como conta:
– Eu me transformei totalmente cantando esse repertório. Essas canções me atingiram no cerne, na alma mesmo.
E o fato de ser mulher, permitiu à artista entrar por meandros desse repertório, de forma despudorada até.
– Sinto que uma mulher pode abrir novas dimensões de leitura na sua poesia, e o eu lírico dele permite isso – arremata ela.
Ana Cañas andou pelas noites e pelos quintais de Belchior. E fez, ela mesma, o seu caminho.
Crédito da imagem: Marcus Steinmeyer