‘Esses fascistinhas não duram muito tempo’

abril 20, 2022

Gerald Thomas comenta a iniciativa de a Secretaria Especial da Cultura usar a Lei Rouanet pró-armas e reflete sobre o retrocesso

A decisão de a Secretaria Especial da Cultura, ligada ao Ministério do Turismo, destinar R$ 1 bilhão via Lei Rouanet para a produção audiovisual pró-armas está repercutindo na classe artística. O diretor Gerald Thomas, responsável por realizar espetáculos inovadores tanto no Brasil quanto no exterior, é um dos que criticam a medida. O encenador se prepara para dirigir pela primeira vez um texto de Nelson Rodrigues (1912-1980). A peça será “Doroteia”, farsa escrita pelo dramaturgo em 1949, e os ensaios começam em maio com estreia prevista para julho. De Nova York, onde vive, o diretor falou com NEW MAG por vídeo.

– Esse governo Bolsonaro é, pelo que me parece, antitravestis e bastante homofóbico. É engraçado porque ele está parecendo ser um travesti na medida em que usa a Lei Rouanet, de incentivo à Cultura, que está sendo travestida para incentivar a indústria armamentista –  compara o diretor sem economizar na provocação a medidas adotadas recentemente: – O governo já tem motocicleta da escuderia Lecoq e comprou Viagra, que incentiva le cock. Claro que esse cara (o presidente Bolsonaro) tem uma falha grande na cabeça e tenta cobrir essas falhas todas com esses artifícios, que fazem barulho. E, shakespereanamente falando, é muito barulho por nada.

Ele reconhece as “feridas” provocadas pelo governo e tem esperança de que o país não vai demorar a se recuperar delas. E compara o comportamento de Bolsonaro ao do ex-presidente Donald Trump:

– Como intelectual, só tenho a dizer uma coisa: no mundo, nunca se viu tanta bobagem, tanta besteira. Se ele (Bolsonaro) vai atrasar o país, vai atrasar muito pouco. Esse tipo de ferida é superficial, eu acho que é superficial. Ele quer que seja enorme, como Donald Trump (ex-presidente dos EUA) quis que fosse enorme, mas não é. Esses fascistinhas são pequenos e não duram muito tempo na História. A gente se recupera muito rápido. São Hitlerizinhos que não têm o poder de um 3º Reich, porque não se veio de uma economia completamente esfacelada porque não teve uma Bolsa de 1929. Não houve um crash, como o de (19)29, não viemos de uma 1ª Guerra Mundial.

O diretor acha, inclusive, que essa onda de retrocesso que ganhou força no mundo está com os dias contados, não só no Brasil como nos EUA:

– Esse pessoalzinho tenta imitar um louco do Texas chamado Alex Jones (radialista e teórico da conspiração) e suas infowars. Acontece que esse modelo é furado. Tanto é que esse Alex Jones não para de ser processado. Veja você, o pessoal que invadiu o Capitólio no ano passado está sendo julgado. Esse pessoal vai todo para a cadeia, um por um. A mesma coisa deve acontecer no Brasil. Pelo menos é o que a gente espera.

Crédito da imagem: Alexandre Nunis

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