Durante a pandemia, Monica Salmaso e o pianista André Mehmari tiveram oportunidade para fazer algo ainda possível em tempos de tantas privações: cantar e tocar. Esses encontros resultaram numa outra quarentena, artística e sensível. “Quarentena” foi exibida pelo YouTube e trazia no repertório “Morro velho”, canção lançada por Milton Nascimento em 1967. Eles não imaginavam que esse tema seria a fagulha que reacenderia neles a vontade de realizar um novo trabalho.
– Esta canção, que sempre foi emocionante de cantar e tocar, durante o isolamento na pandemia, com tudo o que estávamos sentindo, vendo, lendo, tomou enormes proporções emotivas, tanto em mim quanto no André. Isso foi tão forte que nos deu vontade de fazer um segundo encontro homenageando Milton e seus diversos parceiros – explica a cantora.
E o resultado é “Milton”, show que apresentam terça (29) no Teatro Riachuelo, no Centro do Rio de Janeiro. O repertório traz 11 obras-primas criadas pelo compositor mineiro com alguns dos seus parceiros.
Certamente o mais constante é o saudoso Fernando Brandt, de quem a dupla escolheu quatro canções, dentre as quais “Credo” e “Saudade dos aviões da Panair”. O repertório traz também as duas parcerias de Milton com Caetano Veloso: “Paula e Bebeto”, lançada no LP “Minas”, de 1975, e “A terceira margem do rio”, inspirada num conto de Guimarães Rosa e lançada por Caetano no CD “Circuladô”, de 1991.
– Mergulhar neste repertório sagrado ao lado da Mônica, num tempo de tantos desafios, foi das experiências mais marcantes e emocionantes de toda minha carreira – entusiasma-se Mehmari que chama a tenção para a cumplicidade da artista no projeto: – Navegar com paixão e fé por esse cancioneiro, tendo a cumplicidade total desta genial parceira de longa data, é se lembrar a cada compasso daquilo que é nossa essência primordial.