Se, ali pelo início dos anos 1970, algum fã dos Beatles ainda sonhava em ver John Lennon (1940-1980), Paul McCartney, George Harrison (1943-2001) e Ringo Starr reunidos novamente, as esperanças foram de fato sepultadas em 1974. Mais exatamente no dia 29 de dezembro daquele ano. Na ocasião, foi finalmente assinado, depois de algumas idas e vindas, o documento que selou formalmente o fim da banda, extinta originalmente em 1970.
E, no dia em que o acordo completa cinco décadas, NEW MAG ouviu o jornalista musical Marcelo Fróes, referência quando o assunto é Beatles, sobre os desdobramentos trazidos às vidas dos Fab Four e também às dos fãs espalhados pelo Planeta. E as vantagens, creiam, não foram poucas. A primeira delas corrigiu uma injustiça envolvendo o grupo, a gravadora à qual eram ligados e a uma major do mercado fonográfico.
– Os Beatles eram da Apple (não confundir com a gigante da computação) que, por sua vez, era contratada da EMI. Os rapazes recebiam pelos direitos autorais, mas nenhum centavo relacionado às vendas dos discos em razão de um processo judicial (movido por Paul em 1970). E o distrato possibilitou que essa lacuna fosse revista – explica Fróes ressaltando ainda: – Os pagamentos pelos direitos autorais podiam ser consideráveis, mas, ainda assim, eles precisaram fazer freelas.
E não foram poucos. Eram tempos de vacas e, em se tratando da Inglaterra, ovelhas magras. E isso possibilitou momentos marcantes nas vidas profissionais de cada um deles, como elenca o jornalista:
– O Paul acabou compondo para “Live and let die” (filme da franquia 007, de 1973). A canção, de tão impactante, é executada por ele até hoje. Outro fato bacana foi o John ter tocando guitarra e cantando com Elton John em “Lucy in the sky with diamonds”, gravada pelo Elton (em “Captain Fantastic & the Brown Dirty Cowboy”), e, no ano seguinte, tr produzido o álbum “Pussy cats“, do Harry Nilsson.
E, por falar em Lennon, ele foi um dos responsáveis por adiar o tão acalentado acordo. Em um dos encontros, surpreendeu os demais companheiros ao pedir US$ 1 milhão. Em outra ocasião, fez forfait…
– A assinatura do acordo havia sido marcada para acontecer em Nova York. Paul, Ringo e George viajaram para lá, e John, que morava ma cidade, não compareceu. O documento precisou ser levado até ele para que fosse assinado – relata Marcelo sem esconder o riso.
E a ruptura foi vantajosa também para os fãs, brindados com novos lançamentos de cada um dos quatro, como conta Fróes:
– Praticamente a cada mês era lançado algo novo. O Paul assinou com a Capitol, o John fez o “Walls & bridges”, o Ringo e o George criaram seus próprios selos. E o do George foi o mais longevo, o que foi possível pela parceria firmada com a WEA.
Atento às novidades musicais que surgem nas plataformas digitais, Marcelo emocionou-se especialmente no ano passado. A razão é “Now & then”. A canção, deixada inacabada por Lennon, foi resgatada de uma fita caseira e acabou finalizada por Paul.
Tal resgate foi possível em parte graças à tão falada inteligência artificial (IA). Apesar disso, Marcelo destaca o caráter analógico da faixa, para ele “emocionante”.
– Ali não tem nada de artificial. A IA foi muito pouco utilizada, aliás. O vazio deixado pelo Lennon foi preenchido pelo Paul com inteligência e sensibilidade. Tanto que o resultado ficou muito bonito. A canção é linda – arremata.
E ela junta-se a outras tantas que, ainda hoje, emocionam e contagiam gerações de fãs. Sim, os Beatles acabaram, mas deixaram um arsenal que não dá sinais de morrer.