‘Ele vai remar contra’

novembro 6, 2024

A vitória de Donald Trump é analisada por Leonardo Paz, da FGV, que fala dos seus desdobramentos no mundo

Parecia ser uma disputa acirrada com a democrata Kamala Harris. No entanto, é Donald Trump, aos 78 anos, que voltará à presidência dos Estados Unidos após garantir mais de 270 votos no Colégio Eleitoral. A vitória foi marcada às 7h32 (horário de Brasília), quando o republicano alcançou 276 delegados. Pouco depois, ao vencer também no Alasca, chegou a 279 votos, consolidando sua vitória. 

Como nos Estados Unidos a apuração é feita individualmente por cada estado, esta contagem pode se estender por semanas. Porém, as projeções baseadas em dados estatísticos permitem antecipar o resultado. As conquistas em estados como Geórgia e Pensilvânia foram fundamentais para o desfecho favorável ao republicano, que retornará ao cargo após perder para Joe Biden em 2020. Acompanhado da mulher, Melania, e do filho Barron, ele prometeu uma “verdadeira Era de Ouro para a América” após receber a notícia de sua vitória. 

O pesquisador do Núcleo de Prospecção e Inteligência Internacional da Fundação Getúlio Vargas (FGV)  Leonardo Paz, conversou exclusivamente com o NEW MAG sobre algumas questões que vão impactar diretamente o cenário global. Ele elucidou o que podemos esperar da gestão do novo presidente, considerado o homem mais velho na presidência dos EUA até hoje. E o primeiro a chegar à Casa Branca com uma condenação criminal e respondendo a processos na Justiça. 

— Não surpreende a vitória de Trump pois, pelas pesquisas, estava claro que qualquer um dos dois poderia ganhar. O que surpreende é a margem de vitória que ele teve. A campanha conseguiu conquistar quase todos os estados em disputa, o que chamam de “swing states”. isso foi impressionante. Por mais que o voto geral não eleja um presidente, ele é um indicador de forças, que em geral os democratas dominavam há décadas — explica Leandro. 

Na opinião do pesquisador, se tomarmos como referência os discursos e falas de Trump em relação às mudanças climáticas, o que se espera é o total abandono do republicano em relação às pautas sobre  Meio Ambiente.  

— No primeiro mandato, ele já tinha indicado que sairia do Acordo de Paris. Só não conseguiu sair pela moratória e essa cairia já no governo de Joe Biden. Vimos que Biden voltou atrás na decisão. A gente pode esperar que ele vá remar totalmente contra. Irá ignorar o clamor da comunidade internacional de implementar políticas sofisticadas e robustas para lidar com as questões climáticas — prevê Leonardo. 

Em relação aos conflitos no Oriente Médio, o pesquisador acredita que o governo de Benjamin Netanyahu  terá mais liberdade para atuar com sua truculenta agenda de intervenções militares na Faixa de Gaza e no território do Líbano. 

—  Lembrando que Biden vinha num malabarismo, pois queria travar o processo de ajuda americana para Israel. Se continha em função da eleição. Achava que uma condenação mais dura poderia causar riscos de perda de apoio da comunidade judaica nos EUA. Ficava num morde-e-assopra quando se tratava de confrontos nesses territórios. O Trump não está preocupado, ele está entrando no primeiro ano de governo. E não pode ser reeleito, então, não há nenhum empecilho com as urnas nesse contexto — diz Paes. 

Já no que diz respeito à guerra na Ucrânia, de acordo com o que diz o próprio Trump, não haveria interesse algum dos EUA em continuar mantendo a ajuda ao país do Leste Europeu. Tudo indica que Trump irá reduzir, não se sabe o quanto, nem quando, a ajuda norte-americana. 

—  É provável que ele vá tentar forçar uma negociação que levará a Ucrânia a aceitar perder território. Os europeus já estão olhando para isso, querem um combinado para tentar suprir parte da perda da ajuda americana. Mas o volume do recurso é muito grande e provavelmente não vão conseguir impedir esse corte. O próprio Trump não tem nenhum grande apreço por Volodymyr Zelensky. Vimos que Trump quis obter informações sobre os negócios de Hunter Biden na Ucrânia. Queria usar isso contra o adversário na época das eleições e o governo ucraniano não cedeu. Logo, criou-se uma inimizade. Então, acho que a situação desse país fica um pouco mais dramática no contexto da vitória —  ressaltou Leonardo. 

Crédito da imagem: Divulgação/Arquivo Pessoal

 

Leonardo Paz é pesquisador do Núcleo de Prospecção e Inteligência Internacional da Fundação Getúlio Vargas

 

 

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