Selton Mello é não somente um dos grandes atores da sua geração, mas do país. Artista multifacetado, o ator e diretor começou bem cedo na televisão. Aos 8 anos, já demonstrava seu talento prodígio para atuação ao integrar o elenco da série “Dona Santa”, da TV Bandeirantes. Participou também de novelas como “Corpo a corpo”, “Sinhá Moça” e “A indomada”, todas da TV Globo. Nos anos 2000, Selton passou a ser visto mais nas telonas do cinema do que na televisão. Em “O auto da Compadecida” interpretou o inesquecível Chicó. E, depois, vieram sucessos como “Lisbela e o prisioneiro” e “Meu nome não é Johnny”. Isso sem falar em seus trabalhos na direção como no premiado filme “O palhaço” e na série “Sessão de terapia”. Recentemente, o ator lançou a autobiografia, “Eu me lembro”, na qual, através de perguntas feitas por amigos, relembra seus 40 anos de carreira. Em entrevista ao NEW MAG, o artista comenta sobre seu livro e sua trajetória na TV, recorda a época em que dirigiu o grande Paulo José (1937-2021), fala da reedição da parceria com Matheus Nachtergaele no cinema e revela tomar óleo de canabidiol para mitigar a insônia.
Sua autobiografia de 40 anos de carreira foge do formato tradicional. Ser entrevistado por seus amigos foi também uma redescoberta da sua relação com eles?
Foi sim. Eram pessoas com quem eu trabalhava ou admirava de alguma forma. Elas foram meus melhores entrevistadores, me ajudaram a lembrar de muitas coisas. Cada um veio com uma dúvida, uma curiosidade… Foi muito bom recordar. É gostoso ver que deu tudo certo.
A sua biografia chama-se “Eu me lembro”. Houve algo que não foi bom de lembrar?
Tudo foi bom de recordar, inclusive as coisas ruins. É como Ariano Suassuna fala: “tudo que aconteceu de bom, é ruim de contar, e tudo que aconteceu de ruim, é bom de contar”. Tudo faz parte da minha História.
Como foi resgatar o Chicó, um dos personagens mais icônicos da sua carreira, em “O auto da compadecida 2”? O que a parceria com Matheus Nachtergaele traz de novo na retomada deste trabalho após 20 anos?
É a gente mais velho, mais maduro, em outra época da vida. Foi muito bonito reencontrar o Matheus e bater papo na coxia também. Conversar sobre o que a gente fez nesse tempo e o que queremos ainda fazer também.
“O palhaço”, longa que você dirigiu, foi o último trabalho de Paulo José (1937-2021) no cinema. Que lembranças você tem do ator na época das filmagens?
As mais doces lembranças. Paulo José era um ator que tinha a capacidade de dizer muito com pouco recurso, muito econômico no jeito de trabalhar. Isso é uma coisa que me emociona demais. Na verdade é algo que eu intuía, mas me deu uma clareza do caminho a seguir.
Da pandemia para cá, aumentaram significativamente os quadros de ansiedade e de depressão. Como foi transpor essa realidade à ficção na série “Sessão de terapia”?
Foi com delicadeza e sensibilidade ao abordar os temas, os pacientes, os dramas. Tudo feito com muito zelo e cuidado. Por isso a série chega às pessoas tão bem e emociona tanta gente.
Você comemorou nas redes sociais, em maio, que estava há um ano sem fumar. Continua firme e forte?
Continuo firme e forte. Na verdade até parei de contar, mas acho que já são 1 ano e oito meses sem fumar. Algo que não falei no livro mas é legal de dar esse depoimento, principalmente porque existe muita ignorância no Brasil sobre o assunto, é que tenho usado o canabidiol, o óleo da cannabis. É fascinante, tem me ajudado muito com os problemas que sempre tive de sono. Fui me livrando dos remédios, e o canabidiol é uma beleza. Ajuda muita gente com várias enfermidades. Falo isso por conta da quantidade de farmácias que existe no Brasil e da caretice que existe sobre esse tema.
Qual conselho o Selton Mello de hoje, com 50 anos de idade, daria para o Selton do início da carreira?
Falaria para ele descansar mais entre os trabalhos, não emendar tanto um projeto com outro. Isso é puxado demais.
Crédito da imagem: Mauricio Nahas