Dercy Gonçalves (1907-2008) foi mais do que uma enterteiner. E foi muito maior do que a caricatura de mulher desbocada à qual acabou atrelada nos últimos anos de sua vida. Dercy foi tão vanguardista que, se viva estivesse, colocaria no chinelo todas as influencers de hoje. Essa grande artista tem sua memória reavivada no teatro. E por uma comediante à altura da homenageada.
A comediante em questão é Grace Gianoukas – a única com o savoir faire de Dercy. O espetáculo em questão é “Nasci pra ser Dercy”, cuja dramaturgia, a cargo de Kiko Rieser, levou o Bibi Ferreira no ano passado. O espetáculo chega ao Rio de Janeiro neste fim de semana, quando será apresentado no Teatro Prio, dentro da Festa da Comédia Carioca.
– Dercy foi uma defensora absoluta da liberdade, de ser o que se é. Ela é fundamental pra gente estar aqui hoje. Foi uma mulher que apesar de todo o machismo, de todo o moralismo, de toda a hipocrisia da sociedade, ela enfiou o pé na porta e construiu um ambiente de alegria – defende Gianoukas.
E a intérprete também construiu o seu ambiente de alegria em torno de Dercy. E, por isso, Grace não estará de todo sozinha em cena. O ator e dramaturgo Miguel Falabella empresta sua voz para intervenções sonoras à cena. E a escolha não poderia ter sido mais do que acertada, uma vez que o comediante é também discípulo de Dercy. E tamanha maestria é reconhecida pela própria Grace:
– Em relação ao teatro e à arte brasileira, ela criou uma liberdade de interpretação, uma comédia que se aproximava muito mais do público. E isso com um estilo brasileiro com um tempo de comédia que é só dela. Ela provou que a gente pode criar, inventar e ser original.
E que as novas gerações assim permaneçam.
Crédito da imagem: Heloísa Bortz
