Entre 1985 e 1995, Luís Melo teve oportunidade de trabalhar com um dos encenadores mais importantes do país: Antunes Filho (1929-2019). Os dez anos passados no Centro de Pesquisa Teatral (CPT), criado pelo diretor, contribuíram muito para Melo ser considerado um dos melhores atores de sua geração. Muitos dos exercícios propostos por Antunes pautavam-se por filosofias milenares orientais. Uma delas, o I-Ching.
Vinte e oito anos após deixar o CPT, Melo volta a reencontrar um dos pilares responsáveis por sua formação: “I Ching – O livro das mutações”. Ele é a base de “Mutações”, espetáculo estrelado pelo ator e com o qual ele volta, a partir deste fim de semana, ao Teatro Anchieta, em São Paulo, onde foram apresentadas muitas das montagens de Antunes, 21 anos após sua última apresentação ali.
– Meu retorno ao Teatro Anchieta é um misto de emoção e sensações muito boas. Ele foi a minha casa durante 10 anos e é muito importante na minha trajetória – reconhece o ator, aberto às novas sensações que o novo trabalho há de proporcionar: – E retornar agora, especialmente por estar se tratando de um tema que era basicamente a nossa cartilha dentro do CPT, tenho certeza que vai proporcionar excelentes recordações.
A dramaturgia de “Mutações” é assinada por Gabriela Meilão, com concepção e direção de André Guerreiro Lopes. Melo volta ao teatro ao lado de novos companheiros de cena: o ator Alex Bartelli e da bailarina Andréia Nhur.
Uma obra milenar pode ser interpretada sob variadas óticas. Ao mesmo tempo em que o livro tem um quê de oracular, por dar respostas a partir de perguntas, ele tem justamente nisso a dinâmica de um jogo. E foi justamente esse uso que pautou o caminho da encenação, como explica Guerreiro Lopes:
– Dentre as inúmeras perspectivas possíveis para se abordar cenicamente o I Ching, a que mais me interessou na concepção da encenação foi o que ele tem de mais teatral: a própria ideia de jogo, um jogo de mutações, de alternância dinâmica de polaridades.
O verbo atuar é designado pela língua inglesa como to play, que também tem o significado de jogar. Luís Melo volta ao teatro que o formou com a disposição renovada para jogar. E, nessa partida, o espectador é peça fundamental.
