‘Danuza tinha insônia e telefonava’

junho 23, 2022

Curiosidades sobre Danuza Leão são contadas por Heloísa Tolipan, com quem trabalhou no JB e de quem foi vizinha

Era começo dos anos 1990 quando a jornalista Heloísa Tolipan, então repórter da editoria Cidade do Jornal do Brasil, foi chamada à sala da colunista Danuza Leão pelo então secretário de redação, Artur Xexéo (1951-2021), que reservava a ela a boa nova:

– Você vai assumir uma coluna no B.

– Como assim? O B já tem a Danuza – rebateu a repórter, obtendo do profissional o esclarecimento:

– A sua coluna será sobre people e não haverá nenhum conflito com a da Danuza.

Foi com as bênçãos de Xexéo e de Danuza Leão que Heloísa Tolipan iniciaria a coluna “Gente”, da qual foi titular por 25 anos no Caderno B. O fato é uma das muitas recordações sobre Danuza Leão, que morreu, aos 88 anos, na noite da última quarta-feira (22), rememoradas pela querida jornalista na manhã desta quinta-feira (23), em conversa por telefone com NEW MAG. Foi com Danuza que a colunista recebeu muitas dicas sobre como se portar na cobertura de eventos.

– Ela recomendava que, no caso de um jantar, o ideal era sair de casa já alimentado para poder se dedicar integralmente à cobertura daquele evento – rememora Tolipan chamando atenção para outra característica da colunista: – Ela não tomava notas durante a conversa com um personagem. Ela conversava e, aí sim, ia para o banheiro anotar as informações apuradas.

Heloísa morava em Copacabana, próximo à divisa com o Leme, Zona Sul do Rio de Janeiro, onde Danuza morou, e voltavam juntas da redação do JB, que ficava no número 500 da Avenida Brasil.

– O B fechava ali pelas 17h e nosso papo começava na hora da diagramação e se estendia até o carro dela, no fim do expediente. Sem falar nos telefonemas durante as madrugadas. Danuza tinha insônia e volta e meia, telefonava. Eram conversas muito divertidas – relembra Tolipan.

Heloísa tem na sala de casa uma estante que pertenceu à Danuza. Ao trocar o Leme pela Avenida Atlântica, a escritora deu o móvel à amiga. E como não tinha frescuras, ela e Heloísa desceram os módulos que formavam a estante:

– Deixa de preguiça e vamos descer isso, Heloísa! – propôs à vizinha sem pestanejar.

Ao mesmo tempo em que era sofisticada, Danuza tinha esse lado despojado como recorda Tolipan, destacando uma peça de roupa que a escritora adorava:

–  No dia a dia, Danuza usava (o tênis) All Star. Então, no fim do expediente, ela reclinava a cadeira e esticava as pernas sobre a mesa de trabalho. Era o máximo ver aquela mulher elegantérrima, usando pulseiras de marfim e tênis all star. Passei a usar também o tênis por causa dela.

Heloísa atesta a importância de Danuza na sua trajetória e reconhece que profissionais como ela são raros no jornalismo de hoje:

– Eu adorava a editoria Cidade e acabei trilhando um caminho como colunista muito por causa da Danuza. Acabei indo por um caminho de mostrar o bastidor do bastidor por causa dos toques que ela me deu. Fiz meu caminho como colunista e, hoje, se sou editora de moda, devo muito disso a ela.

Devemos, Helô, devemos todos. Danuza era única. E será, de agora em diante, inesquecível.

 

MAIS LIDAS

Posts recentes

Presença auspiciosa

O lama Dzongsar Khyentse Rinpoche ganha homenagem de uma das mais queridas atrizes brasileiras. Vem saber

Noite concorrida

Personalidades prestigiam Luiz Roberto Nascimento Silva em lançamento de livro no Rio de Janeiro

Bença, Madrinha

Beth Carvalho é reverenciada por 31 vozes da MPB em projeto que atesta sua importância e seu pioneirismo