‘Covardia o que fizeram com a Rafa’

maio 31, 2024

Fred Mayrink, diretor artístico de "Família é tudo", comenta o retorno da audiência à faixa, elogia Rafa Kalimann e fala do show em tributo a Frank Sinatra

Quando uma orquestra afina seus instrumentos ela provoca uma sensação proustiana no diretor de TV Fred Mayrink. O  som produzido leva-o imediatamente ao Palácio dos Artes de Belo Horizonte (MG), do qual seu pai, Francisco Mayrink, foi diretor artístico. Foi ali onde o então menino teve sua atenção despertada à arte. Aos 11 anos, Fred rumou para o Rio de Janeiro para atuar na montagem de “Meu pé de laranja lima”, adaptada do clássico de José Mauro de Vasconcelos (1920-1984). E o caminho foi sem volta. O ator ingressou, em fins dos anos 1980, na TV Globo. Ali, encantou-se pela direção e galgou as etapas relacionadas ao cargo, da assistência às direções de núcleo e artística, onde está hoje, à frente da novela “Família é tudo”. Hoje, Fred concilia o ofício com a concretização da paixão pela música. Ele sobe, em junho, ao palco do Belmond Copacabana Palace para apresentar o show “Sinatra for you”, no qual interpreta clássicos do repertório de Frank Sinatra (1915-1998), cujo timbre chamou sua atenção quando ele tinha 18 anos. “Tenho 50 anos e digo que ele é a trilha sonora da minha vida”, justifica, reiterando planos de dedicar-se mais à música. Em entrevista ao NEW MAG, ele comenta por telefone sobre o retorno da audiência à  faixa das 19h da Globo e sai em defesa de Rafa Kalimann, alvo de notícias mentirosas acerca de sua conduta profissional: “A Rafa é maravilhosa e tem um futuro brilhante pela frente”.

Teu pai dirigiu uma orquestra em Minas Gerais. Vem dele o teu interesse pela música?

Vem completamente dele. Meu pai foi gerente da Orquestra Sinfônica de Minas e, depois, diretor artístico do Palácio das Artes de BH, onde cresci. Digo que um som muito presente na minha infância é o da orquestra afinando seus instrumentos. Eu brincava pelos corredores e acompanhei ensaios de balés e da própria orquestra. O meu olhar para a Cultura nasceu ali.

E quando o Sinatra entrou na tua vida?

Eu tinha 18 anos e estava no carro com amigos quando uma voz saiu do rádio. “Quem está cantando?, perguntei. Era o Sinatra, e a música era “Let me try again”. Dali em diante ele passou a fazer parte da minha vida. A partir dele me interessei pelo universo das big bands, do jazz e dos standartds. Hoje, tenho 50 anos e digo que ele é a trilha sonora da minha vida.

“Família é tudo” fez com que o ibope das 19h voltasse a ascender. Num tempo de consumo on demad o ibope ainda dá as cartas nesse jogo?

Hoje você tem toda uma diversidade de opções para o consumo de produtos e de conteúdo que vão da música à teledramaturgia. Acontece que a TV aberta ainda traz essa semente da comunicação de massa. Você grava uma cena que é assistida por 20 milhões de espectadores nos mais variados cantos do país. A TV, assim como a sociedade, passa por um processo evolutivo, e essa evolução é constante. Uma questão que nunca pode ser esquecida é a da empatia e é importante que a TV retrate o país na sua diversidade e na sua brasilidade. O Brasil tem um leque imenso cultural, social e econômico, e é preciso que a TV não descuide desse lugar da emoção. É importante que quem esteja em casa se reconheça no que assiste.

Recentemente surgiram notícias relacionadas a uma suposta indisciplina da Rafa Kalimann e que ela estaria atrapalhando as gravações. O que você tem a dizer sobre esse episódio?

Uma covardia o que fizeram com a Rafa.  Ela é uma profissional muito estudiosa e disciplinada. No caso dessas notícias é triste ver até que ponto as coisas podem chegar. Falta ética em diferentes segmentos profissionais, e é triste ver que há na sociedade pessoas que propagam a desinformação, fomentando o desafeto. A Rafa é maravilhosa e tem um futuro brilhante pela frente.

As novelas das sete falavam muito com o público juvenil. Top Model e Vamp são exemplos disso. Os jovens trocaram a TV pela tela do celular. O que é preciso para apimentar essa relação?

Os jovens ainda são uma parte significativa do público que assiste à TV aberta. E a TV precisa estar atenta e conectada aos anseios e aspirações desse público, que quer se ver representado ali. A TV tem o desafio de se modernizar sem perder esse alicerce que é o de retratar a sociedade. Acho que esse alicerce nunca vai deixar de existir.

Jorge Fernando, que dirigiu algumas novelas das sete, disse certa vez que o diretor de TV precisa blefar ao comandar uma equipe. Você concorda com isso?

Tive oportunidade de realizar alguns trabalhos com o Jorge, e ele teve um papel importante na minha formação como diretor. Ele tinha uma capacidade invejável de solucionar grandes problemas de forma simples e criativa. Ele tinha esse entendimento da comunicação popular. Fazer comédia é muito difícil e, no caso do horário das sete, você precisa lidar com essa pluralidade de gêneros e estilos, indo do drama cômico ao pastelão, de uma cena dramática a outra em que a personagem leva uma torta na cara. E como você faz esse arco numa curva que comporte todos esses estilos? O Jorge tinha esse entendimento e ele faz muita falta.

O Raoni Carneiro tem se destacado na direção de shows para o Globoplay. Quais novos diretores destacaria?

O Raoni é sem dúvida um talento que merece ser destacado. Ele começou na TV como ator e, assim como eu, encantou-se pelo trabalho como diretor. Na vida é importante a gente descobrir qual o nosso caminho. Você pode ser diretor e descobrir que seu lance é a cenografia, e é importante quando essa descoberta se dá. Trabalhei com a Fernanda (Rodrigues, mulher do Raoni) em “Vamp”, quando ela era uma garotinha, e é bacana ver que a nossa geração foi vivenciando as coisas e se encontrando na arte. Outro nome da minha geração que destaco é o Pedro Vasconcelos, um cara com talento de sobra, que, além de dirigir, escreve e produz.

Pensa em se dedicar mais ao trabalho de cantor?

Penso e isso está nos meus planos há muito tempo. Eu tinha 11 anos quando saí de casa para fazer teatro e, desde então, vivo para a arte, tendo trabalhado em diversas frentes. E uma coisa que a vida me mostrou é que não podemos desistir dos nossos sonhos, e a música é um sonho que se faz presente na minha vida hoje. Não quero abrir mão de estar nesse lugar.

Que outro nome da música homenagearia?

Tony Benett seria um nome que homenagearia. Carlos Gardel seria outro. Tenho loucura por tango e por boleros. Tive oportunidade de mostrar um pouco desse meu lado num show em 2010. Adoro as músicas das décadas de 1940 e 50 e sou apaixonado por esse repertório. Poderia fazer algo relacionado à época de Ouro do Rádio também. Lembro de ver, nos anos 1990, um espetáculo em que a Marília Pêra interpretava canções dessa época (no musical “Elas por ela”) e isso me marcou também. Tenho essa alma retro (risos).

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