Zezé Polessa já começa a se despedir da Cândida, a primeira-dama de Águas de São Jacinto que interpreta em “Amor perfeito”, novela que ocupa a faixa das 18h da TV Globo. Em outubro, essa chave já estará virada e por uma ótima razão. A atriz vai viver no teatro, como noticiado em primeira mão por NEW MAG, Nara Leão (1942-1989), uma das grandes cantoras brasileiras e responsável por, entre tantos feitos, fazer com que, a partir do LP “Nara” (1964), o estilo que viria a ser conhecido como MPB fosse seguido por artistas da sua geração e das vindouras.
Começam no dia 1º de outubro os ensaios de “Nara”, com texto e direção a cargo do craque Miguel Falabella, como também antecipado. Serão três meses de preparação, e a ideia é a de o espetáculo estrear no dia 19 de janeiro de 2024, quando a cantora completaria 82 anos.
O repertório está praticamente definido. Resta ainda definir qual canção será escolhida do álbum “E que tudo mais vá para o inferno” (1977), no qual Nara foi pioneira ao dedicar um disco ao cancioneiro de Roberto e Erasmo Carlos (1941-2022).
– Nossa dúvida é se colocamos “Quero que vá tudo para o inferno”, da qual Nara tirou o verso que deu nome ao LP, ou se incluímos “Além do horizonte”, cuja gravação ficou muito marcada na voz dela até hoje – entrega Zezé.
O antológico LP “Opinião de Nara” (1965), que, no mesmo ano, inspirou o histórico show “Opinião” também estará representado no espetáculo. O afastamento da cantora, substituída pela então desconhecida Maria Bethânia, comumente creditado às suas críticas à Ditadura Militar, é corroborado por Zezé que acrescente outros dados à questão:
– Nara foi corajosa e contundente ao criticar os militares (que tomaram o poder em 1964), e isso contribuiu para seu afastamento do espetáculo, mas ela também teve problemas na voz. O teatro tinha muita poeira, o que acabou por afetá-la, fazendo com que fosse substituída inicialmente pela Susana de Moraes (filha do poeta Vinicius de Moraes). A Nara não chegou a completar dois meses no “Opinião” .
A coragem de Nara é, aliás, uma das características destacadas por Zezé ao falar da personagem. Nara fez o que quis da sua vida e isso resvalou para o campo sentimental. A cantora se relacionou com alguns dos homens mais brilhantes da sua geração, caso dos cineastas Ruy Guerra e Cacá Diegues, com quem veio a casar-se e ter seus dois filhos.
– Nara era namoradeira e estava certíssima em ser assim – elogia Zezé.
Sim, não eram só os amigos de Nara que eram um barato, conforme imortalizado no título de seu LP de 1978. Nara era ela própria um barato. E Zezé e Miguel têm tudo para reiterarem isso.