‘Conseguiram me tirar de cena’

maio 10, 2025

Allan Oliver fala do que o motivou a criar peça sobre Marighella e celebra o fato de ser escolhido um dos jovens mais talentosos do país pela Forbes

Allan Oliver pode ser considerado sinônimo de resiliência. Ele estreou na última sexta-feira (09) a peça “Marighella – O homem que não tinha medo”, idealizada e dirigida por ele, no Teatro Paiol Cultural, em São Paulo. Em bate-papo exclusivo com NEW MAG, o artista fala do que o motivou a levar a história do guerrilheiro aos palcos, da escolha dos protagonistas da montagem, e também celebra o fato de ser um dos jovens talentos mais importantes em sua área, eleito pela revista Forbes. 

A montagem, explica Allan, surgiu da vontade de contar suas próprias narrativas. No ano passado, ele foi acusado injustamente de roubo.

— Foi uma coisa que me desgastou muito. Produzo espetáculos independentes e fiquei um ano sem conseguir trabalhar. Pessoas que trabalharam comigo me acusaram de roubar a bilheteria de uma peça. Judicialmente nada aconteceu, nem processado fui — declara o diretor, que explica que o caso chegou até a mídia — Foram à revista Contigo falar. Só ela deu nota, mas começaram a replicar. E o racismo é tão inteligente nesse lugar. Foi feito pra queimar, e queimaram. Pessoas que nunca trabalharam comigo disseram que roubei. A acusação não virou processo, não havia prova nenhuma. Mesmo assim, espalharam. E o racismo opera aí: a matéria saiu sem nem mostrar meu rosto. Porque se mostra, até pessoas do próprio movimento negro iriam questionar. Mas do jeito que foi feito, parecia verdade. Isso tudo foi só para me tirar de cena, e conseguiram. 

Allan viu na história de Carlos Marighella (1911-1969) o espelho de sua dor, e decidiu levar ao palco a história do político e escritor que era guerrilheiro comunista. Marighella foi assassinado pela ditadura militar no Brasil.

— Fiz essa cruzada no texto de colocar ele como perseguido, muito na questão dele ter sido um homem preto, e trouxe figuras importantes, que, como ele, vivia muito escondido. É muito difícil mesmo, até em biografias, entender quem estava 100% com ele. Mas trouxe referências de pessoas muito conhecidas, que participaram da luta armada ou não, da resistência, seja ela qual for, mas que não foram tão criminalizadas. Ele foi criminalizado porque no período ditatorial, todo mundo reagiu de alguma maneira, com ou sem arma, todo mundo reagiu, só que ele ficou com esse estigma — comenta o diretor, que traz duas figuras históricas, Jorge Amado (1912-2001) e Fidel Castro (1926-2016) para a narração da peça. 

No elenco, Pietro Cadete — filho do ator Rainer Cadete — e Fabio Neppo vivem as fases da vida de Marighella. E Allan é só elogios para ambas as atuações:

—  Pietro fez 18 anos agora e faz o Marighella jovem nesse início, antes de entrar para o Partido Comunista, de se revoltar, é bem legal. E o Fabio é um querido, já fez novelas, já era fã dele, e o trabalho dele na peça está impecável. 

O diretor foi escolhido pela revista Forbes em 2022 como um dos jovens mais relevantes e mais talentosos em sua área de atuação, com menos de 30 anos de idade, e celebra o fato. 

— Foi muito interessante. Fiquei muito envaidecido. Estava na mesma na lista que Marina Ruy Barbosa, Casimiro, o jogador Endrick e vários influenciadores. Depois dessa reportagem, várias portas foram abertas. Fiz o musical “Mistério da Feiurinha” com o Pedro Bandeira. Tem que lugar que não dá esse valor, esse reconhecimento, essa devolutiva boa, mas se a Forbes deu, estou indo num caminho aceitável — arremata o idealizador da peça que ficará em cartaz até o dia 22 de junho. 

Crédito das imagens: divulgação

Pietro Cadete e Fabio Neppo vivem Marighella na peça

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