‘Com Hong, não há roteiro, há conversas’

fevereiro 19, 2024

Na disputa pelo Urso de Ouro, a atriz Isabelle Huppert fala sobre filme dirigido por Hong Sang-soo, conta o correspondente Rodrigo Fonseca

por Rodrigo Fonseca*

Ao receber o NEW MAG numa sala do Hotel Hyatt de Berlim, para conversar sobre dois de seus muitos novos filmes, Isabelle Huppert usava um traje preto dos pés à cabeça, combinando um terninho aveludado com um ramalhete de flores do campo multicor. O alourado visual de seu penteado era realçado pelo figurino e pelo sorriso generoso que ajudou a sedimentar seu sucesso popular, dos anos 1970 para cá.

— Pode esperar que, ao passar pelo tapete vermelho da Berlinale Palast, vou estar com outras cores — promete a atriz francesa de 70 anos, que integra a disputa pelo Urso de Ouro de 2024 à frente da dramédia “A Traveler’s Needs“, do sul-coreano Hong Sang-soo — eu que comprei o vestido colorido que usei numa das sequências, no papel de uma personagem bem exótica. Com Hong, não há roteiro, não há trama, há conversas.

Isabelle participa ainda de “Les Gens D’à Côté“, o exuberante thriller policial que marca a volta do veterano cineasta francês André Téchiné com quem trabalhou em “As Irmãs Brontë” (1979). 

— Ele passou por fases importantes da minha carreira e gosto muito da secura que André sabe imprimir em suas narrativas, levantando questões que não têm respostas, como só os grandes cineastas fazem — diz Isabelle, uma das atrizes de maior produtividade da indústria audiovisual. 

Sang-soo, igualmente produtivo, trabalhou com ela antes. Os dois fizeram juntos “A Visitante Francesa”, em 2012, e “A Câmera de Claire”, em 2017. Eles retomam o convívio agora, em “A Traveler’s Needs”, no qual Isabelle interpreta uma abilolada professora de Francês que engata em conversas e bebedeiras com artistas para quem leciona. Um jovem poeta e sua mãe bem “sem noção” integram a fauna de personagens de Sangsoo, num longa a cores. 

— O ponto mais importante desse filme foi poder filmar em Seoul, que é uma cidade imensa, pois antes, nós filmamos em outras localidades — diz Isabelle, que concorreu ao Oscar em 2017, por “Elle”, do holandês Paul Verhoeven.

Em “Les Gens D’à Côté”, a estrela europeia se arrisca em cenas de pura tensão sob a batuta do aclamado realizador de “As Testemunhas” (2007) e “Rendez-vous” (1985). Téchiné destila elegância nesse suspense, narrando a saga de uma policial que se afeiçoa por seus novos vizinhos até entrar em dilema ao descobrir que um deles tem um passado de crimes.

— Eu aceitei esse projeto para estar com ele, não pela segurança de saber aonde ele poderia me levar… pois a gente nunca sabe… mas pelo fato de que ele sempre abre muitas perspectivas de entendimento para as imagens que cria — diz Isabelle, que ganhou o Urso de Ouro Honorário do Festival de Berlim de 2022, mas não teve como ir buscar por ter testado positivo num exame de covid-19 — O resultado saiu na véspera da viagem para a Alemanha, mas eles me mandaram o troféu na sequência.

A Berlinale 2024 segue até domingo (25).

*especial para o NEW MAG

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