Buarque do Brasil

junho 19, 2024

No dia em que Chico Buarque completa 80 anos elencamos seis áreas nas quais ele mostrou sua genialidade artística

Como reza aquele clássico samba, “Chegou a hora\ Chegou, chegou”. E Chico Buarque completa, nesta quarta-feira (19), oito décadas de vida. E olha o que NEW MAG fez: elencamos seis diferentes áreas das artes pelas quais nosso grande compositor passou e, através das quais, corroborou seu talento para a criação artística. São áreas que vão do teatro ao cinema e que mostram como Chico é de fato único, original e soberano na Cultura brasileira.

São bonitas as canções

“Eu queria ser um tipo de compositor\Capaz de cantar nosso amor modesto”, reza a letra de “Amor barato”, lançada por Chico no LP “Almanaque” (1981).  A modéstia até pode ser uma meta, mas, em se tratando de resultados, ela passa longe do cancioneiro de Chico Buarque. E isso é algo evidente na vasta discografia do artista, composta por mais de 40 títulos , sendo 20 álbuns solos, lançados ao longo de seis décadas, numa carreira fonográfica iniciada em 1966. O cancioneiro é vasto em clássicos e obras-primas, arraigadas na vida de gerações de brasileiros. Cada um de nós tem – não uma, mas muitas – canções do Chico para chamar de suas.

A crua palavra

A estreia literária dá-se com “Fazenda modelo” (1975), alegoria inspirada pelo clássico “Animal farm”, de George Orwell (1903-1950). A única obra de poesia editada originalmente como livro é “A bordo do Ruy Barbosa”, escrita em meados dos anos 1960 e só editada em 1981. A partir de “Estorvo”, lançado em 1991, Chico passa a dedicar-se à literatura com mais afinco, revezando-se entre as criações musicais e ficcionais. De “Estorvo” em diante, lançou outros sete títulos de ficção e aguarda-se um novo livro para este ano. Chico já foi agraciado com importantes prêmios como o Jabuti e, mais recentemente, o Camões, a mais alta láurea a um autor de língua portuguesa.

No palco, na praça, no circo, num banco de jardim: cantando…

São palcos azuis

A primeira colaboração profissional de Chico para o teatro dá-se em 1966, quando ele cria melodias para os poemas de “Morte e vida Severina”, obra-prima de João Cabral de Melo Neto (1920-1999). A estreia mesmo como dramaturgo dá-se dois anos depois, com “Roda viva”, através da qual Chico expurga a roda-viva na qual sua vida se transformou a partir do sucesso de “A banda”. A obra traz temas como “Sem fantasia” e a canção-título. “Calabar”, primeira parceria do autor com Ruy Guerra, nem chegaria aos palcos. Com o compositor na mira da censura, o musical foi proibido ainda durante os ensaios. Chico não se intimida e, dois anos depois, escreve juntamente com Paulo Pontes (1940-1976), “Gota d’água”, musical que consagra Bibi Ferreira (1922-2019) como uma das grandes damas dos palcos. Já “Ópera do malandro” foi o berçário de obras-primas como “Pedaço de mim”, “Folhetim” e “Tango do covil”, entre outras. Chico criaria ainda temas para espetáculos de amigos como a balada “Amando sobre os jornais”, lançada em “O Rei de Ramos”, de Dias Gomes (1922-1999), e “Suburbano coração”, peça estrelada por Fernanda Montenegro.

Ele faz cinema

Foi com um tema instrumental que Chico fez sua estreia como autor de temas para cinema. O filme em questão era “O anjo assassino”, de Dionísio Azevedo (1922-1994), filmado em 1966. A sétima arte ajudou a consagrar muitas das canções de Chico. “Quando o carnaval chegar” (1972), de Cacá Diegues, trazia simplesmente na sua trilha sete canções que não tardaram a tornarem-se clássicos. “Partido alto”, “Soneto” e “Bom conselho” são algumas. No LP “Meus caros amigos”, o compositor, já sob o forte crivo da censura, reuniu temas criados para o cinema como “O que será”, “A noiva da cidade” e “Vai trabalhar, vagabundo”, para os longas de Bruno Barreto, Alex Vianni e Hugo Carvana (1937-2014), respectivamente. O mesmo se deu no álbum “Vida” (1980), que trazia “Eu te amo” (para o filme de Jabor) e “Bye,bye Brasil” (de Cacá). Chico volta a compor especialmente para o cinema em 1985, quando faz novas canções para “Ópera do malandro”, longa de Ruy Guerra inspirado no musical homônimo de 1978. Para o filme em questão, Chico criou temas como “O últimos blues” e a icônica “Palavra de mulher”, imortalizadas, respectivamente, nas vozes de Gal Costa (1945-2022) e Elba Ramalho.

Cena de “Francisco(s)”, espetáculo da Studio3 Cia. de Dança

O grito do homem voador  

As três suítes de “Francisco(s)”, espetáculo da Studio3 Cia de Dança, mostram que as canções de Chico caem como luva (ou seriam sapatilhas?) para espetáculos de dança. A primeira trilha para balé foi criada em 1981 e juntamente com outro gênio da MPB, Edu Lobo. Juntos, assinam os temas de “O grande circo místico”, para o Balé Guaíra concebido a partir de um poema de Jorge de Lima (1893-1953). A trilha consagrou temas como “Beatriz”, “Sobre todas as coisas” e “A história de Lily Braun”. Chico e Edu voltariam a compor juntos para “Dança da meia lua”, também apresentado pelo Guaíra, e para a trilha do espetáculo teatral “Cambaio”.

Agora era o herói

“Receita para virar casaca de neném” e “Acalanto”, gravadas no LP “Chico Buarque nº 4” (1970), foram motivadas por situações que envolviam as duas primeiras filhas do compositor, Silvia e Helena. O exílio em Roma aproximou Chico dos compositores Sérgio Bardotti (1939-2007) e Luís Enriquez Bacalov (1933-2017). De volta ao Brasil, Chico verte para o português as canções da dupla, e “Os saltimbancos” chega aos palcos em 1977. O musical inspiraria o filme “Os saltimbancos Trapalhões”, estrelado pelo célebre quarteto de humoristas e por Lucinha Lins, e para o qual Chico compôs novos temas como “Piruetas” e “Meu caro barão”. Chico escreveu também um único livro infantil, “Chapeuzinho Amarelo” que, mais recentemente, ganhou nova edição ilustrada por Ziraldo (1932-2024).

Crédito das imagens: Jorge Bispo (alto), Ricardo Nunes e Leandro Menezes

 

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