Ave, Bethânia!

fevereiro 13, 2025

No dia em que Maria Bethânia celebra 60 anos de carreira, sua relevância na música é saudada por Alceu Valença, Alcione, Joanna e Letrux

Era fevereiro de 1965 quando uma jovem cantora baiana, com então 18 anos, causou uma (r)evolução no panorama musical brasileiro. A cantora em questão é Maria Bethânia, que, a partir daquele momento (para ela,  13 de fevereiro),cravaria a bandeira de seu canto inigualável naquele terreno que, a partir da década seguinte, ficaria conhecido como MPB.

Dona do dom que Deus lhe deu, Bethânia cantou o que quis e, fiel a si mesma, não cedeu a imposições de gravadoras e a tendências do mercado. E abriu nos grandes sertões veredas a uma legião de novas cantoras e, no seu balaio sonoro, juntou música e poesia, compositores de sua geração (e das vindouras) aos mestres que forjaram seu gosto pela música na sua Santo Amaro da Purificação natal.

Bethânia completa seis décadas de carreira, e NEW MAG elenca opiniões de diferentes artistas sobre o que faz desta grande cantora única na música brasileira. São eles o cantor e compositor Alceu Valença, as cantoras Alcione e Joanna e a cantora e compositora Letrux, que falam com exclusividade ao site.

A primeira vez que se é gravado por Bethânia é inesquecível. E para Alceu Valença não foi diferente. O cantor tinha já 13 anos de carreira quando, em 1985, a cantora lançou “Na primeira manhã”, gravada de forma pungente (como só Bethânia sabe fazer) no LP “A beira e o mar”. Ela gravaria outras canções do pernambucano, como “Junho” e  “Tomara”,  e Alceu manda à  amiga seu “Recado falado”, enviado da Europa, onde o artista finalizou turnê no fim de semana.

– “Pra começar eu vou te amar o ano inteiro\ De janeiro a janeiro, meu amor, sem atropelo” – cantarola o compositor que, a partir dos versos de “Janeiro a janeiro”, faz sua saudação: –  Parabéns, Maria Bethânia , por seus 60 anos de carreira! Você é brilhante como estrela, uma constelação. Beijão!

Contemporânea de Alceu, Alcione dava seus primeiros passos como cantora de samba quando Bethânia assistiu a um show seu. A baiana viu ali que a colega poderia fazer o que bem quisesse na música e a convidou para um dueto – o primeiro de outros. A canção em questão era “O meu amor”, de Chico Buarque, gravada como um bolero em “Álibi”, álbum que levou Bethânia a ser a primeira mulher a vender 1 milhão de cópias no país.

Donas do dom: Bethânia e Alcione

– Bethânia é verdadeira, Ela é de verdade, não faz tipo, não segue modismos. Além de uma intérprete impecável, a dedicação ao seu trabalho também é primorosa. Tenho a honra de tê-la como amiga e como irmã – pontua Alcione que também contou com a participação de Bethânia em projetos pessoais como o álbum “Da cor do Brasil”, de 1984.

Seis anos antes de estrear na música com “Nascente”, em 1979, Joanna ficou hipnotizada, como ela própria conta, pela figura cênica de Bethânia num “espetáculo onde música e teatro vivo misturavam-se com elegância e paixão”.  O show era “Drama, Luz da noite”, apresentado no antigo Teatro da Praia, no Rio de Janeiro.

– Maria Bethânia inscreveu seu nome definitivamente na história da música brasileira quando substitui Nara Leão no “Opinião”, cantando a plenos pulmões a icônica “Carcará”. Bethânia é uma artista que não canta somente com a voz, leva junto seu gestual com tal força que envolve corpo e espírito de forma inigualável. Sua voz grave e marcante fez dela um dos maiores expoentes da nossa música – destaca Joanna apontando para uma peculiaridade da colega: – Pra mim, a melhor intérprete de Chico Buarque. Fico feliz de ter conhecido e gravado com ela a delicada “Maninha”, do Chico, e de ter conhecido essa voz , essa figura emblemática, essa força que nunca seca.

Essa mesma força que foi motriz para Letícia Novaes, nome verdadeiro da cantora Letrux, enveredar pela música. Um dos nomes mais interessantes da atual cena pop, ela foi apresentada aos LPs de Bethânia ainda criança. E, já estabelecida na cena musical, teve a alegria de conhecer a artista durante a temporada do show “Claros breus” no Manouche, Rio de Janeiro:

– Maria Bethânia é única na música brasileira porque soube, como boa geminiana,  ser várias, mas sempre mantendo a curiosidade e o entusiasmo singular pelos mistérios da vida, da poesia, do desejo. Respeitou mundos antigos e criou novos universos. Bethânia é patrimônio e divindade.

E, como tal, completa seis décadas de carreira como um farol às cantoras de agora e às que hão de surgir. E Joanna volta à baila para uma singela oração ao “tempo, tempo, tempo, tempo”…

– Que os novos tempos da música possam trazer artistas como Bethânia, que marquem histórias nas nossas vidas, e que nos deem o significado real de estar cultuando a boa e verdadeira música brasileira. Ave, Bethânia!

Créditos: Christovam de Chevalier (texto), reproduções do instagram e Marcio Debelian (imagens)

Letrux e Bethânia no camarim do show “Claros breus”

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