O termo testemunha ocular vem bem a calhar quando se trata da relação de Gilda Mattoso com a música brasileira. Viúva de Vinicius de Moraes (1913-1980), ela convive com artistas há décadas – profissionalmente, inclusive. Como assessora de imprensa, trabalhou com nomes como Maria Bethânia, Caetano Veloso, Lulu Santos e Gilberto Gil. E boas histórias não faltam. Muitas delas estão em “Assessora de encrenca”, livro lançado em 2006, e agora, 18 anos depois, Gilda compartilha de suas anotações de viagens em “Diários da assessora de encrenca – Os bastidores das turnês com Gilberto Gil e outros artistas” (Almedina). O lançamento é nesta terça (07), às 18h30m, no Gabinete de Leitura Guilherme Araújo, em Ipanema, Zona Sul do Rio de Janeiro.
Gilda trabalha com Gil há décadas e, há 20 anos, acompanha de perto as turnês do artista. E, por isso, esteve nos bastidores de apresentações no exterior dos shows “Trinca de ases” – que uniu Gil, Gal Costa (1945-2022) e Nando Reis –, “OK, OK, OK” e, mais recentemente, “Nós a gente”, na qual o artista celebrou seus 80 anos reunindo no palco e na equipe filhos e netos.
A “assessora de encrenca” tem o dom de narrar fatos. Sendo divertidos, então, sai de baixo. Essa característica é apontada por Preta Gil no prefácio do livro, inclusive: “Nas nossas viagens de ônibus, ela embalava a road trip com histórias hilárias, e entretinha as crianças ensinando palavrões. A tia Gilda é a melhor”.
E histórias divertidas não faltam. E, na conversa com NEW MAG, Gilda rememora uma delas. Durante a turnê portuguesa do “Trinca de Ases”, Gal Costa foi a um restaurante e constatou in loco a característica de os portugueses levarem as expressões e perguntas ao pé da letra.
– Intrigada com um arroz do menu, Gal perguntou ao garçom como ele era servido. No que ele respondeu sem pestanejar: “Ora, ora, eu mesmo o sirvo” – diverte-se Gilda ao relembrar o fato.
Nem tudo é só diversão. Contratempos e sustos também fazem parte da rotina. Como o mal estar sofrido por Gal em uma das apresentações, levando-a às pressas ao hospital e fazendo com que Gil e Nando tocassem o show sem ela .
– Gal foi para o fundo do palco apoiando-se no biombo da bateria. Na hora, pedi ao roadie para ver se ela precisava de algo. Ela pegou na mão dele, pediu para ser levada e foi com Flora (mulher de Gil) ao hospital – lembra Gilda destacando a seguir: – Depois, soubemos que, antes do show, no camarim, ela havia comido um queijo brie inteiro. Depois rimos, mas na hora foi um susto.
Tomar notas é condição sine qua non a qualquer jornalista. E, no caso de Gilda, ela adquiriu a importância de registrar, sobretudo, informações que sejam reutilizadas pelos artistas, por suas equipes, e, agora e mais uma vez, pelos leitores:
– Um artista como o Gil, que viaja muito, acaba voltando aonde já esteve. E sempre surgem perguntas como “qual era mesmo aquele hotel onde ficamos?” ou “em que restaurante encontramos a mulher do (cineasta Michelangelo) Antonioni?”. Então, anoto para não perder nada.
Para deleite dos fãs desses grandes artistas e para alegria dos amigos de Gilda. E eles não são poucos.
