O termo “aglomeração” já era presente na vida de Pedro Luís muito antes da pandemia. O artista usou de forte e competente aparato sonoro para emoldurar suas criações. E assim foi com o Urge, grupo pautado pela estética punk; com o Boato, no qual música e poesia deram os tons, e com A Parede, com a qual o artista rompeu, em 1997, a barreira do som que o segregava à cena underground.
A partir de então, o país foi conhecendo um compositor autêntico, egresso de uma geração com nomes tão promissores quanto. Os anos passaram, e a tal “pantera do tempo” só fez bem a Pedro Luís. É esse cantautor seguro e agora senhor de si que mostra-se no show “E se tudo terminasse em amor”, calcado pela canções do álbum homônimo lançado em novembro de 2024.
– O amor é infinito e pode manifestar-se de diversas formas. Se o Lulu (Santos) é o último romântico, e esse título ninguém lhe tira, que eu seja então o próximo romântico – propõe o artista pouco depois de abrir, na última terça (18), sua terceira noite no “Terças no Ipanema”, projeto capitaneado por Flávia Souza Lima no Teatro Municipal Ipanema Rubens Corrêa, no bairro vanguardista de mesmo nome, na Zona Sul do Rio de Janeiro.
E o amor, que perpassa pelo álbum do artista, resvala sobre o show, dirigido com sensibilidade por Bianca Ramoneda e iluminado de forma sublime por Aurélio de Simoni. E tais colaborações aglutinam-se em prol do que está ali para ser mostrado: as excelentes novas canções do artista, reunidas num show no qual contemplação e contágio (no sentido de contagiante) alternam-se.
Esse estado de contemplação faz-se presente quando Pedro chama ao palco o pianista António Guerra, seu primeiro convidado naquela noite e, ao lado de quem, revisita suas “Noite Severina” (gravada com Ney Matogrosso no álbum “Vagabundo”) e “Pressa”.

O clima mantém-se num set intimista, quando Pedro, acompanhado apenas de seu vigoroso violão, dedilha “Seresta” (inexplicavelmente ainda inédita), a sagaz “Indivídua” e, claro, “Máquina de escrever”, porta de entrada do artista nas rádios.
Com os competentes Ricardo Rito (teclado e sanfona) e Élcio Cafáro (bateria) de volta ao palco, o cantor dá a partida na sua “Navelouca” para sua segunda convidada da noite subir a bordo. E Fernanda Abreu adentra a cena e põe fogo no parquinho ao cantar com o anfitrião “Tudo vale apena”, parceria da dupla que azeitou a deliciosa massa sonora lançada pela cantora no seu hoje antológico “Da lata”, fazendo dela uma espécie de madrinha informal do artista.
A participação da diva pop encerra-se com “Rap do Real”, extraída do segundo CD de Pedro (ainda com a Parede). O tema, reavivado agora pela eterna Garota Carioca mostra que canção e intérprete nasceram uma para a outra. E o mesmo vale para Pedro e Fernanda, que, em matéria de suingue sangue bom, gabaritam qualquer prova.
E o artista encerra a apresentação dando mais uma vez voz ao intérprete personalíssimo que também sabe ser. Ele que, momentos antes, relera “Disritmia”, de Martinho da Vila, fecha a tampa com “Muito romântico”, de Caetano Veloso, numa pegada mais hard.
E tudo termina… em amor . E Pedro Luís, do alto dos seus 64 anos, mostra credenciais para figurar entre nossos grandes compositores. E a tal “pantera do tempo” não o intimidou – em nada .
Créditos: Christovam de Chevalier (texto), Dalton Valério e Raiane Nery (imagens)
