Alegria renovada

abril 16, 2024

A artista plástica Angela Bosco, musa de João Bosco, abre mostra com a qual quebra jejum de 15 anos sem expor

“Seda cor de batom\Arco-íris crepom\Nada vai desbotar”… Os versos de “Papel machê”, parceria de João Bosco e Capinam, ficaram célebres na voz do compositor mineiro, sendo cantados dentro e fora do país. A canção, assim como tantas outras de João, tem como musa a artista plástica Angela Bosco, sua companheira há 51 anos. O papel machê da canção foi matéria prima de uma série de obras da artista, que ilustram, inclusive, a capa do LP “Gagabiró”, lançado em 1984.

Pois Angela está de volta às tintas, aos pincéis e, no caso das esculturas, aos arames. E quebra jejum de 15 anos sem expor suas criações. O longo hiato é interrompido (amém!) com “Alegria”, mostra com 27 telas e 12 esculturas que ela abre nesta terça (16), no Gabinete de Leitura Guilherme Araújo, em Ipanema, Zona Sul do Rio de Janeiro.

O longo silêncio foi provocado por uma divergência provocada pelo uso excessivo da tecnologia na arte. Acostumada a colocar (literalmente) a mão na massa, ela ficou incomodada com o uso crescente de programas de computação no resultado final das obras de artistas que admira. O ateliê ficou fechado por mais de dez anos e, durante a pandemia, foi reaberto pela artista. O contato com materiais que tanto fizeram parte de sua vida renovou-lhe o entusiasmo pelo trabalho e pela própria vida em si.

– O problema da idade me incomoda porque me sinto incapacitada para entender a tecnologia. Não é uma questão de visual ou de saúde. Eu simplesmente não consigo entender os computadores, os programas – elenca ela destacando o ponto de inflexão que a fez reabrir o ateliê:  – E, durante a pandemia, vi que tanto fazia eu ter 20 ou os 68 anos de agora.

O papel machê, tão comumente associado a ela, ficou no passado. As 12 esculturas da mostra foram criadas com arames retorcidos acrescidos de borracha e.. tinta acrílica. Sim, as tintas a óleo, tantas vezes utilizadas por ela, dão lugar à acrílica, como ela própria explica:

– Já usei tinta a óleo, mas me intoxica muito. Uso atualmente, nas pinturas, tinta acrílica à base de água por ter pouco cheio e secar mais rapidamente.

E assim ela segue, confiante e renovada, reiterando uma vocação que não pode mais ser silenciada. Ainda que surjam mais e novos gadgets.

– Acho que o maior problema de envelhecer nos dias de hoje é o de acompanhar a tecnologia – reconhece, corroborando em seguida o estilo que faz dela referência: – Gosto mais de usar as mãos do que o teclado.

Assim sendo, mãos à(s) obra(s)!

Uma das 27 telas inéditas criadas por Angela Bosco para a exposição “Alegria”, que abre no Rio de Janeiro

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