‘Achei que deveria falar também de mim mesma’

março 7, 2022

Pioneira ao realizar no país filmes sobre temas feministas, Eunice Gutman tem sua trajetória celebrada no Rio de Janeiro, em mostra que abre no Dia Internacional da Mulher

Numa certa manhã, em idos dos anos 1980, uma notícia de jornal chamou a atenção da cineasta Eunice Gutman. O texto dizia que moradores da Rocinha, na Zona Sul do Rio de Janeiro, impossibilitados de matricular seus filhos nas escolas, estavam, eles próprios construindo colégios. A diretora viu que ali havia pano para manga e lá foi ela atrás dos moradores. E, assim, nasceu o curta “A Rocinha tem histórias” (1985), que abocanhou prêmios nos festivais de Brasília e Gramado, os mais importantes da época.

– Sempre me interessei pelo que não era claramente dito. Tanto que meu primeiro filme (“E o mundo era maior do que a minha casa”, de 1976) era sobre uma mulher que aprendeu a ler aos 77 anos e descobriu que o mundo era bem maior do que a casa dela. Sempre me interessei pelos temas sociais – constata a diretora em entrevista ao NEW MAG.

Por sua dedicação aos temas sociais – em especial às questões relacionadas aos direitos das mulheres – Eunice será homenageada nesta terça-feira, 8 de março, Dia Internacional da Mulher. Na ocasião, será aberta a mostra “Eunice Gutman pioneira e política”, que ocupa a Biblioteca Marialva Monteiro, no Espaço Cultural Cavídeo, nas Casas Casadas, em Laranjeiras, Zona Sul do Rio de Janeiro.

Eunice estudou cinema no Instituto Nacional de Artes do Espetáculo e das Técnicas de Difusão, mais conhecido como INSAS, em Bruxelas, Bélgica. De volta ao Brasil, um dos seus primeiros trabalhos foi no documentário “Os Doces Bárbaros”, de Jom Tob Azulay. O filme registra a turnê do show que reuniu, em 1976, Maria Bethânia, Caetano Veloso, Gal Costa e Gilberto Gil. Eunice trabalhou no roteiro e, em seguida, na montagem do filme, lançado em fins dos anos 1970.

É nessa mesma época que ela começa a se interessar pelas questões relacionadas aos direitos das mulheres, num movimento que acabou conhecido como Feminismo.

– Foi quando descobri que o pessoal é político e achei que deveria falar também de mim mesma, da minha situação como mulher diante de um mundo que não era propriamente feito para nós. Daí, surgiram vários filmes sobre o tema – rememora Eunice que finaliza um longa sobre os direitos femininos com lançamento previsto para este ano.

Alguns filmes depois, a diretora reconhece que as mulheres conquistaram mais espaço dentro da sociedade:

– Interessante ver que esse assunto (feminismo) tem interessado às mulheres mais jovens. Tenho visto que nós, mulheres, conquistamos um espaço muito maior do que quando comecei a fazer os filmes. Isso me deixa muito contente.

 

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