Ninguém diria que aquele garotinho paulistano alucinado por rádio se tornaria um dos maiores nomes da TV brasileira. Sempre à frente de tudo, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho nasceu em Osasco, São Paulo, no dia 30 de novembro de 1935. E passou por diferentes veículos até ingressar na TV Globo, em 1967, onde ficou até 1997. Criou com Walter Clark (1936-1997), o que o Brasil e o mundo conhecem como padrão Globo de qualidade. De 1998 a 2001 foi consultor da Globo e, entre muitos feitos, o mergulho nas próprias memórias tem sido cada vez mais forte na sua trajetória. O “operário da tv”, como ele mesmo se define, está lançando seu segundo livro, “O Lado B de Boni” (Best Seller). E, assim, o ex-vice-presidente de Operações da Rede Globo traz `a tona suas impressões sobre atrações que ajudou a criar e profissionais com os quais trabalhou. “A televisão é uma obra coletiva. Ela não nasceu sozinha”, constata ele nesta entrevista ao NEW MAG. A seguir, ele fala sobre gratidão, reconhecimento e garante que a TV aberta não vai acabar por ser eterna.
Uma noite estrelada com o ícone da televisão brasileira, porque é assim que o público te vê. Como você se sente vendo-se tão prestigiado?
Fui surpreendido pela presença de amigos tão grandes. É memorável! A gente fica feliz de promover o encontro dessas pessoas. Elas já não estão mais trabalhando juntas, mas vieram. Reuni um pessoal da pesada. É um grande reconhecimento, estou surpreso com a presença de todas essas pessoas. Achei gostoso reunir o velho e o novo. Várias gerações, e todos eles, artistas brilhantes. E o livro é isso, um reconhecimento do talento brasileiro. Uso a escrita para agradecer o talento de tantos brasileiros.
O novo livro não é uma biografia, mas uma obra onde você conta suas histórias e fatos passados com outras pessoas. O livro fala o Lado B de Boni, então o que seria o Lado A?
É exatamente isso: o livro é uma tentativa de reconhecer a contribuição de amigos tão talentosos ao longo da minha história. O Lado A está no primeiro livro, no qual conto o que aconteceu. Já no Lado B, conto como tudo aconteceu. É uma coisa mais afetiva. E também faço algumas confissões. É um complemento do que ficou faltando no primeiro livro.
Falando de confissões, recentemente você falou sobre sua saída da Rede Globo. Você disse que saiu decepcionado, sentindo-se como se tivesse levado um chute no traseiro. Foi assim realmente?
Eu não fiquei chateado, nós éramos felizes e sabíamos. Não fiquei com mágoa nenhuma, pois é um direito deles. Mas, claro, gostaria de ter sido tratado com um pouco mais de carinho.
Hoje temos os streams, a internet, uma infinidade de coisas. O que você acha dessa geração? E você acha que poderia ter feito algo mais?
Como produtores, temos a oportunidade de produzir munição. Nós devíamos nos defender melhor nessa guerra. Mas acho que a televisão está se construindo de maneira perfeita. A última notícia será que a televisão aberta continuará funcionando.
E como vê o atual momento da televisão aberta?
Vai durar, a televisão aberta tem vantagens. O stream substitui a lojinha da esquina que alugava filmes. A televisão não, ela vive de notícias. O stream é enlatado. A televisão é viva. Ela vai continuar existindo sempre. Pode se modificar, mas é um veículo competente e completo. Ela é eterna.
Você revelou recentemente o apelido de Silvio Santos que ninguém sabia. Acha que ele ficou chateado contigo?
Não sei, eu lembro que ele ficava vermelho. Talvez ele nem lembre mais, isso foi em 1994. Se ele lembrar que era “o peru que fala” será uma coisa espantosa de memória.
Você tem mais histórias para contar, outros lados virão à tona?
Sinceramente, espero que eu tenha esgotado. E, hoje em dia, histórias verdadeiras são tão difíceis. As próximas que vou fazer serão ficções.
Você viu o início de tudo e participou ativamente. O que pode dizer para quem está começando na televisão?
Não devem fazer da televisão uma promoção individual, nem desejar estar ali porque é bonito ou interessante. Recomendo a todas as pessoas que vão trabalhar na televisão que estudem. Que analisem a televisão, que aprendam. Que não procurem apenas sucesso. Mas que procurem expressar seu talento e contribuir para a arte brasileira.
Todas as pessoas são só elogios a você. A que você atribui esse fenômeno?
A televisão é uma obra coletiva. Ela não nasceu sozinha, nasceu graças ao talento de artistas e técnicos envolvidos. Sobre os elogios, é uma questão de força, sou um operário da televisão. Sou 10% de talento e 90% de transpiração.
Crédito da imagem: João Cotta\TV Globo