Luiz Fernando Carvalho deixou na TV brasileira uma assinatura autoral pautada pelo lirismo e pelo encantamento. Essa marca viu-se recentemente na série “Independências”, exibida pela TV Cultura, mostrando que padrão de qualidade é algo que levamos conosco de uma emissora a outra.
Essa assinatura tão marcante do diretor chega agora ao cinema. E justamente a partir de uma obra-prima de uma das maiores escritoras brasileiras – ou, vá lá, naturalizada brasileira: Clarice Lispector (1920-1977). “A paixão segundo G.H” tem seu roteiro assinado pelo próprio diretor em parceria com a jornalista Melina Dalboni a partir do livro homônimo, lançado em 1964. O longa, estrelado por Maria Fernanda Cândido, foi exibido na noite da última sexta-feira (13), no Festival do Rio, com premiete no Cine Odeon.
– Foi uma experiência muito forte entrar nesse texto. A Maria Fernanda foi muito corajosa, muito disponível e muito sensível. Foi um trabalho intenso, mas cercado de muito prazer e muita alegria – declarou Carvalho sobre a colaboração da atriz.
E a noite foi prestigiada por astros da TV, que trabalharam com o diretor em ocasiões anteriores, como o ator e poeta Michel Melamed, que personificou “Dom Casmurro” na TV, e nomes que admiram o diretor e a obra de Clarice como Christiane Torloni, o casal de atores Sophie Charmotte e Daniel de Oliveira e Mariana Lima, que estrelou adaptação teatral da mesma obra, entre muitos outros.
Há, aliás, um episódio anedótico em torno de “G.H”. Clarice e o diretor teatral Fauzi Arap (1938-2013) eram grandes amigos. Certa vez, o ator presenteou a amiga com uma pastilha de mescalina. Tempos depois, num novo encontro, a escritora relatou que fizera uso do entorpecente e que ele não lhe provocara reação alguma. – Como não – rebateu Fauzi completando em seguida: – E você não escreveu “A paixão segundo G. H”?
Ah, meus amores… Como reza o provérbio italiano, se non é vero, é bene trovato.
Crédito das imagens: Eny Miranda\Festival do Rio