Acomodação não combina em nada com Caio Blat. O ator já colecionava aparições episódicas na TV quando, em 1999, caiu nas graças do público como João Batista, o amante de Chiquinha Gonzaga (Regina Duarte) na minissérie sobre a compositora produzida pela TV Globo. Não demoraria para ele ser alçado ao posto de galã, e Caio foi muito além disso. Ele é, aos 44 anos, um dos grandes talentos da sua geração. Mais do que isso: é um dos nossos mais respeitados atores. E uma prova está no Riobaldo de “Grande sertão”, adaptação cinematográfica da obra de João Guimarães Rosa (1908-1967). No longa de Guel Arraes, que a Globo passa a exibir em série a partir da próxima terça (07), Caio mostra-se soberbo, como em outros tantos papéis. E exemplos não faltam. Vão do próprio Riobaldo na peça dirigida por Bia Lessa ou em “Memórias do vinho”, que lotou teatros em 2024. E ele brilha também como diretor. Ele e Marina Vianna assinam a direção de “Os irmãos Karamazov”, adaptação do clássico de Dostoiévski (1821-1881) que estreia, na quinta (09), no Sesc Copacabana, Zona Sul do Rio de Janeiro. “Mostrei que sou, na verdade, um ator com mil possibilidades”, atesta em entrevista ao NEW MAG. Na conversa, feita de forma presencial no Rio de Janeiro, o ator fala do futuro das telenovelas, da boa relação que mantém com as ex, de como a convivência com os filhos o atualiza e da quebra de tabus na profissão.
Você produz sem parar. Estrelou, no ano passado, “Memórias do vinho”, juntamente com Herson Capri. Quais os teus próximos projetos?
A peça fez um grande sucesso. Todas as sessões lotadas, uma festa muito bonita, porque a Jandira Martini, nossa autora, morreu ano passado. Então, foi muito emocionante. Estamos montando o último texto que ela deixou para a gente e viajamos por várias cidades. Estivemos no interior de São Paulo, em cidades como Ribeirão Preto e São José dos Campos, e também em Minas, em Belo Horizonte. Este ano devemos marcar outras apresentações.
Justamente com o Herson, seu parceiro no palco, você fez uma novela para streaming. Como vê o futuro das novelas nos canais abertos?
Sim, fizemos pai e filho na novela “Beleza fatal”. Eu o convidei para fazer a peça comigo, também como pai e filho, porque tivemos um encontro muito especial, uma parceria muito forte, um grande prazer em trabalhar juntos. Então, saímos da já com um projeto emendado.
E como vê o futuro das novelas?
Como temos uma tradição de novelas longas, e agora há uma invasão dos streamings, com novos formatos muito mais curtos, como filmes e séries, acredito que eles vão se fundir. “Beleza fatal” e outras novelas nesse formato atendem a essa novidade. São novelas muito mais curtas, com 40 episódios em vez de 180, o que as torna mais dinâmicas, sem barriga, com um ritmo muito maior e um cuidado visual que o público também passou a esperar de séries e filmes. Esse modelo híbrido, de novelas curtas, é genial para esse movimento.
Ainda muito jovem, você foi colocado no posto de galã. Isso te ajudou ou te atrapalhou?
Quando isso surgiu, aproveitei meus trabalhos, principalmente no cinema e no teatro, para quebrar essa imagem. Fiz muitos personagens polêmicos, muitos filmes de temática social e política. Então, acho que com meu trabalho no teatro e no cinema, mostrei uma versatilidade. Fiz vilões, fiz filmes, por exemplo, como “Cama de gato”, com uma cena forte de violência, muito polêmica. Acredito que, através do meu trabalho no cinema e no teatro, quebrei esse rótulo e mostrei que sou, na verdade, um ator com mil possibilidades.
Você tem um filho de 20 anos. A nova geração é muito mais atenta ao machismo do que a anterior, mas em suas entrevistas você demonstra sempre uma preocupação com esse tema. Caio Blat é um homem do seu tempo ou é um homem em constante aprendizado?
Sim, meus filhos hoje são minhas janelas. Eles estão o tempo inteiro me atualizando, me questionando, me criticando, me ensinando. Eu me aproximo muito dos meus filhos e dos amigos deles. Faço questão de ter a casa cheia de adolescentes. Agora mesmo, estou com cinco adolescentes na minha casa. Então, conheço músicas novas, aprendo sobre séries, games, internet… Enfim, aprendi muito com eles.
Você é um ator que se entrega muito. Já fez cenas de nudez no teatro e no cinema. Acha que o ator não pode ter pudores? Vê a nudez em cena com naturalidade?
A nudez é a nudez do personagem, né? Então, acho que a nudez está sempre em função da dramaturgia. Fiz cenas de estupro em que precisava ficar nu, fiz cenas no teatro. Quando o personagem se desmontava por completo, se redimia. Então, era um símbolo de pureza, de despojamento. A nudez, para mim sempre serviu à dramaturgia. Nunca a vi de fora, como exibicionismo, como nada disso. Então, não era isso. Ela sempre foi a favor da dramaturgia e da direção.
Recentemente, viralizou um vídeo seu fazendo massagem nos pés de Preta Gil, sua ex e grande amiga. Você tem também uma relação incrível com a Maria Ribeiro e com Ana Ariel. Qual é o segredo para manter a amizade mesmo após o fim das relações?
Li uma frase esta semana muito bonita, que diz assim: “A amizade é o amor que deu certo.” O amor que deu certo. Então, o relacionamento amoroso tem um tempo de duração, tem um prazo, ciclos que se abrem e se fecham, mas o amor e a amizade permanecem.
Já houve a declaração de um casamento aberto. Por que você acha que ainda existem tabus sobre esse assunto?
Eu não quero mais participar dessa polêmica. Estou um pouco cansado de falar sobre isso.
Caio, acredita-se que exista a famosa “crise dos sete anos” nos relacionamentos. Você acha que realmente existe?
Acho que a crise é permanente, o tempo inteiro. A gente tem que se perguntar constantemente para onde estamos indo, sabe? Acho que quando acreditamos que um relacionamento chegou a um estado maduro, ele morre. Acho que, todo dia, a gente se questiona e se pergunta: Hoje, eu ainda quero estar nesse relacionamento? Eu acho que a crise é permanente.
Crédito da imagem: Isabella Mariana