Bibi Ferreira (1922-2019) foi mais do que uma grande atriz. Ela foi também cantora, diretora (de teatro e shows), apresentadora e, tudo somado, isso faz dela uma multiartista avant la lettre. E a vida desta mulher tão plural e tão singular, será narrada naquela que será sua biografia oficial. A obra é escrita por alguém que a conheceu a personagem bem de perto: sua única filha,a também atriz e diretora Tina Ferreira.
Com o título provisório de “Simplesmente, Bibi”, a obra sairá pela Capivara e vai proporcionar também experiências sensoriais e auditivas. Suas 500 páginas serão perfumadas com Chloé, perfume usado por Bibi, e, através do acesso a códigos QR, o leitor poderá ouvir trechos de espetáculos nos quais a estrela brilhou como “My fair lady” e “Alô, Dolly”.
– Vou falar da minha família e do princípio de tudo, e o pessoal do circo vai estar muito presente. Toda a história da mamãe vem da família da minha avó (Aída Izquierdo) que inclui maestros, palhaços e trapezistas. Ela foi bailarina do Teatro Colón,na Argentina, e foi depois para o Teatro de Revista, viajando o mundo como integrante da Companhia Velasco, onde minha mãe começou aos 3 anos de idade – destaca Tina.
E para fazer esse mergulho profundo nas próprias origens, Tina conta com a colaboração do jornalista e pesquisador Alexander Costantino, que foi amigo de Bibi e, como tal, frequentou a casa da grande artista.
– O Alexander é de uma cultura e inteligências raras e tem um português perfeito. Tanto que brinco que ele é um rapaz do século XIX – elogia Tina que surpreendeu-se com a pesquisa feita pelo parceiro: – Ele trouxe dados do século 15 e fiquei besta pois o Brasil nem havia sido descoberto ainda!
E por falar em descobertas, a biografia trará preciosidades garimpadas por Tina entre os guardados da mãe. Uma delas é uma pasta reunindo partituras musicais que vão da infância à maturidade da atriz, abarcando um período entre os 10 e os 40 anos da artista. E uma delas traz as notas de “Chiquinho estudioso”, composição da própria Bibi.
– As partituras estão escritas a mão e trazem gêneros que vão do foxtrote ao blues. Uma delas é a de “Chiquinho estudioso”, e os leitores poderão ouvi-la tocando esse tema através do QR code – entrega a autora.
Outros dos achados remetem ao período em que Bibi foi aluna do Colégio Anglo-Americano. Ali, uma das matérias ensinadas era a de… culinária. E o livro trará algumas das receitas compiladas pela menina no seu caderno, como revela Tina:
– Minha mãe não cozinhava nada. A única coisa que a vi fazer na cozinha foi um pudim de vitelo e, ainda assim, uma única vez na vida. Mas, no colégio, ela tinha de aprender a cozinhar e a costurar. Eram coisas que as moças aprendiam também.
Coisas de um mundo que Bibi Ferreira, através de uma gama de talentos, ajudou a transformar. Até porque, comonaquele poema de Vinicius de Moraes (1913-1980), o tempo de Bibi é quando.
E, portanto, sempre.