‘A arte dá voz a todas as minorias’

novembro 17, 2023

Tomaz Viana, o TOZ, recordista de visitações no MAC, fala sobre sucesso, engajamento, relembra prisão e revela planos de chegar ao audiovisual

Para o artista, é gratificante quando sua produção cai nas graças do público. E Tomaz Viana, o TOZ, apelido que é também seu nome artístico, vive essa experiência. Ele conseguiu, aos 47 anos, um feito e tanto: sua exposição “Todas as cores”, exibida este ano no Museu de Arte Contemporânea, o MAC, em Niterói (RJ), bateu recorde de público na instituição, inaugurada em 1996. O feito pegou de surpresa o próprio artista, feliz por ter podido levar um público diverso àquele centro cultural. O fato coroa uma trajetória de quase 30 anos dedicados ao grafite. TOZ e a família trocaram Salvador, sua cidade natal, pelo Rio de Janeiro, onde seus personagens chamaram atenção nos muros da cidade. Shimu e o Vendedor de Alegria conquistaram adultos e crianças e ajudaram a colocar o grafite num outro patamar. Tanto que, a partir de 2014, sua arte chega às galerias do Brasil e, no ano seguinte, ao exterior. E, mais recentemente, a lugares inusitados como os corredores de um shopping. Ele assina a decoração natalina do Shopping Leblon, indo na contramão (e não poderia ser diferente) do estilo que comumente toma conta desses locais a cada fim de ano. “A arte está onde o artista quiser”, diz ele ao NEW MAG, nesta entrevista, feita a partir da troca de áudios, em meio à correia de sua rotina.

Todas as cores foi a exposição mais visitada em toda a história do MAC, desde sua abertura, em 1996. Como você recebeu essa notícia?

Adorei saber que a exposição foi a mais visitada e isso foi algo pelo qual não esperava. Lógico que eu sabia que ela teria um público, uma vez que estava sem expor no Rio há bastante tempo, incluído aí o período da pandemia. E fiquei feliz por levar ao museu um público diferente do habitual, mais variado e diverso, o que é muito importante na minha carreira. Acreditava que teria público, mas não da forma como foi. Quando a surpresa é positiva é mais legal ainda.

O abstracionismo é a tônica da sua mostra mais recente, “Permutações cromáticas”. Esse caminho foi proposital ou ocorreu de forma espontânea?

Esse caminho não foi nada proposital, mas natural. Foi um caminho natural, fruto de questionamentos que eu já me fazia. Acredito que o caminho da forma seja o da abstração. Quanto mais você desenha a mesma forma, ela vai se abstraindo. Então, para mim, é um caminho natural e acho que para todo artista. Comigo esse caminho se deu naturalmente.

A sua arte já chegou ao exterior, assim como a de outros nomes da sua geração, como os Gêmeos e o Kobra. O grafite, por ser mais pop, tornou a arte brasileira mais universal?

Acho que o grafite é uma cultura que cresceu muito, juntamente com a internet e as redes sociais. Fizemos parte desse conjunto de movimentos, que inclui também fotos e as selfies. A arte de rua é muito fotografada. Os artistas de rua fizeram com que a arte brasileira fosse vista mais uma vez. Mas não acredito que tenhamos feito uma diferença a ponto de dizer que o grafite fez o artista brasileiro ser reconhecido internacionalmente. Nesse ponto, não. Acho que é um conjunto de coisas. Sempre tivemos grandes artistas, como Tunga, Hélio Oiticica e, antes ainda, Portinari, que deram visibilidade ao país. Acho que todos esses nomes juntos é que fazem a arte brasileira ser maravilhosa.

Recentemente Romero Britto disse que os únicos políticos que não retrataria seriam os ditadores. Acha importante misturar arte e política?

Meu trabalho não tem nada de político. Ele vem das cores, do estudo delas e das formas. Falo de amores, sentimentos comuns e inerentes ao ser humano. Acho que cada um faz o que quiser da sua arte. Não faço retratos, então não passaria por essa missão de retratar ou não um ditador, mas acho que isso é uma visão pessoal. De nada adianta você recusar ditadores e retratar políticos corruptos. Acho que é preciso ter uma balança para essa questão. Acredito, sim, na arte como forma de protesto, como forma de informar. O artista tem um entendimento antecipado das coisas, e a arte dá, de um modo geral, voz a todas as minorias. E não cabe a mim dizer que isso é isso e que aquilo é aquilo. A arte está onde o artista quiser. No meu caso, minha arte fala da minha vida, das minhas experiências e do que eu vivo. Não tenho envolvimento com política e profundidade nesse tema para abordá-lo. Sou um cara que gosta de falar do que entende, e do que entendo mais é do amor mesmo.

Qual o maior perrengue enfrentado no tempo em que grafitava muros como um desconhecido?

Costumo dizer que, em relação aos perrengues, lembro mais das vitórias. Vivi muitas situações insólitas e até engraçadas. Acho que a mais marcante foi quando fui preso. Inaugurei uma exposição em BH (Belo Horizonte, Minas) num sábado e, no dia seguinte, minha galerista havia marcado um almoço com curadores e colecionadores. Na manhã daquele domingo, fui pintar com dois amigos e fui preso. Passei o dia detido e não compareci ao almoço. Todos lá me esperando e não apareci. Minha mãe ficou louca (risos).

Seus personagens são muito queridos pelas crianças. Já pensou em levá-los ao audiovisual?

Estou envolvido com um projeto de animação, um projeto grande, que está sendo desenvolvido e cuja ideia tem mais de 15 anos. Mas, como você sabe, as coisas não são tão fáceis, né? O processo é lento, mas é duradouro. Isso está a caminho. Vamos ver.

Crédito da imagem: Cristina Granato

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