Um homem alto de pele bronzeada – que valorizava ainda mais seus olhos – foi o responsável por modernizar, com inteligência e picardia, um segmento do jornalismo que ficou conhecido como colunismo social. Até então fadado a relatar acontecimentos sociais da noite carioca, que incluíam festas e eventos, o colunismo renova-se a partir de Ibrahim Sued (1924-1995). O jornalista não somente traz para a crônica social informações em primeira mão (os chamados furos de reportagem) como torna mais leve a leitura de tais relatos ao inserir bordões que foram uma de suas marcas – indeléveis até hoje.
Responsável por popularizar expressões como “De leve” ou a anedótica “Olho vivo porque cavalo não desce escada”, o jornalista tem sua história contada no documentário “Ademã – A vida e as notas de Ibrahim Sued”. A direção do filme, com previsão de chegar às salas em outubro, é dividida pelo cineasta Paulo Henrique Fontenelle com alguém que conheceu de perto o homenageado: a jornalista Isabel Sued, sua filha.
– Decidi fazer o filme quando estava organizando o escritório dele. As colunas de jornais, desde 1950 até a última, em 1995, estavam todas lá. Foram 45 anos de um registro social, econômico e cultural de uma época – explica Isabel sobre a produção, realizada em parceria com a Globo Filmes, Globo News e o Canal Brasil.
A jornalista e diretora colheu para o filme depoimentos de nomes relevantes do jornalismo e da vida cultural brasileira que vão de José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, a Ricardo Amaral passando por Roberto D’ávila:
– Nas entrevistas com as pessoas que conviveram com ele sempre havia alguma coisa nova. Ficava ansiosa na hora, talvez por timidez, mas a vontade de saber e seguir em frente foi mais forte.
O filme foi importante para Isabel descobrir mais sobre o próprio pai como também – e talvez o mais relevante – reavaliar sua relação com ele, a quem se refere como um pai muito protetor:
– Meu pai sempre nos protegeu dessa vida mundana. Ele foi um pai amoroso e fazia tudo pela família. Não gostava de falar do passado. Era carismático e tinha uma forte personalidade.
Personalidade esta que o público – e as novas gerações, sobretudo – vão poder conhecer agora. A caravana de Ibrahim vem aí. E os cães podem ladrar à vontade, pois em nada irão atrapalhar.