Joyce Moreno é não somente uma grande compositora como um dos maiores nomes da nossa música. Não satisfeita, ela ainda domina o violão como poucos e traz na voz um brilho que o tempo não arrefece. Essa mulher, essa senhora está a mil. Voltou na última quarta-feira (03) de turnê —a primeira após a pandemia — por países europeus como Inglaterra e Holanda e Singapura, na Ásia. Chegou a tempo de lançar “Brasileiras canções”, que chega às plataformas nesta sexta-feira (05) com 11 faixas inéditas – e inspiradíssimas. O álbum, o 42º da artista, traz ainda participações de Monica Salmaso, Moacyr Luz (seu parceiro em “A morte é uma invenção”) e Alfredo Del-Penho, talento da nova geração do samba.
– “Brasileiras canções” é um álbum feito num tempo de estranhezas. A impossibilidade de seguirmos com a vida de sempre, os distanciamentos, as perdas de pessoas queridas, o mal espalhafatosamente assumindo o comando… Tudo isso acabou desaguando para mim num momento onde a criação veio aliviar e salvar – explica a artista ao NEW MAG.
A criação devolveu à artista o ar que os tempos de agora tornam rarefeito. O álbum foi gravado entre março e abril deste ano e, através do seu repertório, Joyce sacia a vontade de rever amigos – velhos e novos. O reencontro com Marcos Valle suscita “Nas voltas do tempo”, que já pode figurar na lista das obras-primas da autora. O álbum possibilita sua primeira parceria com o pianista Cristóvão Bastos, e o encontro resultou em “Alimento”, faixa que encerra o disco com chave de ouro (de alto quilate).
O álbum é a prova também de que o samba é uma das praias da compositora – e, nela, ela nada de braçada. Alguns exemplos estão no supracitado “A morte é uma invenção”, assim como no samba-jazz “A palavra exata” ou no samba-choro “Quem nunca”, cantado em duo com Del-Penho.
Por falar em duo, outro encontro emocionante é o da cantora com Monica Salmaso. As duas dividem os vocais em “Tantas vidas”, a única cujo eu lírico é feminino e que ironicamente (ou buarqueanamente) foi escrita pelo poeta português Tiago Torres da Silva, querido também por cantoras como Joanna e Fafá de Belém.
– Da minha parte, fiz o que sei fazer: escrevi e lancei um livro em 2020, e, em 2021 mergulhei de cabeça no ofício de compor canções – sozinha ou em parceria – justifica a artista chamando atenção para o tempo de agora: – Dessas mais de 40 novas músicas e letras, escolhi as que achei mais pertinentes para o momento , na intenção de criar um álbum que falasse da nossa condição humana, que tivesse lugar de fala e lugar de escuta, que trouxesse alguma delicadeza em tempos brutos.
Se a intenção da artista era a de trazer alguma delicadeza, ela nos brinda com delicadezas aos borbotões. “Brasileiras canções” é prenda, é prata e, como tal, é metal nobre.
Nobilíssimo, aliás.
Crédito da imagem: Leo Aversa